

"Na província de Limpopo, na África do Sul, em uma das muitas reservas usadas para safáris fotográficos, encontrei uma história de amor que é, no mínimo, curiosa. Prince, um labra-latas (labrador com vira-latas) de mais ou menos seis anos, não é como os outros cães de estimação. Quando ele vem correndo pelas trilhas em sua direção, você logo toma um susto: ao lado dele vem uma leoa, Chuby, dois anos de idade e três vezes maior do que Prince. E os dois saem rolando no chão e brincam de pega-pega como velhos amigos.
Chuby, a leoa, nasceu com um problema congênito nas patas traseiras e por isso foi rejeitada pela mãe. A reserva, que tem um programa de proteção e preservação da espécie, criou a felina em cativeiro. E Prince é a única mãe que ela conhece. Mas ela não é a única. Ao longo dos anos, Prince adotou diversos leõezinhos e cuidou de cada um como cuida sempre, como se fosse seu.
Manso, esperto e amigável, Prince é um cão sem igual. Ainda filhote, os donos da reserva notaram que ele tinha uma afinidade especial com os leões. Desde o primeiro filhote rejeitado pela mãe (e foram muitos), Prince vai junto bancar a babá. E, desde então, vem criando filhotes e mais filhotes felinos. É ele quem ensina o leãozinho ainda bebê a desenvolver atenção e a reconhecer os perigos. Prince também ensina a socialização com os humanos e, por isso, esses órfãos se tornam confiáveis o suficiente para caminhadas com os turistas. Se é amigo do Prince, é amigo deles também.
A idéia é que, proporcionando essa interação entre humanos e leões, as pessoas se conscientizem da importância do trabalho de proteger a espécie que, acreditem ou não, ainda sofre com a caça na África do Sul por estrangeiros ricos que viajam especialmente para isso. Basta pagar uma pequena fortuna por um documento que autoriza a caça dos animais. Eu tive a infelicidade de ver alguns deles e o arsenal de armas que carregavam.
Quando completam por volta de dois anos, as leoas já têm uma força incontrolável. E quando o instinto do felino que estava adormecido começa a aparecer, é o cão que as acompanha nas novas empreitadas, apesar de não fazer a menor idéia do que é caçar. Não é a toa que Chuby atacou um javali e, como não sabe matar, começou morder a perna do bicho ainda vivo, achando que era mais um pedaço de carne. Enquanto Prince olhava com desaprovação, o javali correu, mancando, provavelmente pensando: ´Mas que diabos de leoa é essa?´. É por causa dessa força e por não obedecer mais aos comandos do cão ou dos tratadores que as caminhadas são suspensas e um outro leãozinho entra em cena.
Aquilla, um bebê de dois meses, é o mais novo amigo de Prince. Enquanto o cão corre entre os turistas, o filhote desbrava a mata, sobe em troncos e aguça seus instintos. Mas quando se vê sozinho, chora pedindo ajuda e lá vai Prince, rápido como uma mãe que vê seu filhote em perigo. Uma bela lambida depois e Aquilla segue o cão, que indica o caminho seguro a seguir.
Com Chuby, as caminhadas são mais emocionantes. Prince corre na frente, a leoa corre atrás, o alcança, o derruba e os dois começam a brincar. Mordidas, tapas, movimentos traiçoeiros e muita agitação. Quando a brincadeira sai do controle e um dos dois reclama de dor, um dos nativos que acompanham a caminhada tenta separá-los com uma vareta. Mas parece que nenhum dos dois liga muito para isso..."
Fonte: itodas.uol.com.br
Fotos: Juliana Bussab (juliana@adoteumgatinho.org.br), jornalista e fundadora da ONG Adote um Gatinho.
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