sábado, 14 de junho de 2008

Testes de medicamentos em animais têm dias contados

Experiências. Todos os anos são usados nos laboratórios europeus 12
milhões de animais. Para reduzir estes testes, uma equipa de
investigadores portugueses está, neste momento, a desenvolver um
método que permite compreender o efeito dos fármacos no fígado através
de ensaios 'in vitro'

Grande aposta é o recurso à cultura de células estaminais humanas

Desenvolver modelos alternativos à utilização de animais, capazes de
fornecer resultados fiáveis, através da cultura de células é o
objectivo de um estudo que reúne investigadores portugueses e outros
parceiros europeus. "Os fármacos antes de chegarem ao mercado passam
por uma série de ensaios. Parte desses ensaios são feitos em animais",
explica Paula Alves, directora do Laboratório de Tecnologia de Células
Animais (LTCA), do Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica
(IBET) e do Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB), da
Universidade Nova de Lisboa. "O que pretendemos com este estudo é
fazer a substituição dos animais", refere.

A metodologia recorre à cultura de hepatócitos, as células que
constituem o fígado, dotando-os das funções necessárias para mimetizar
mais fidedignamente a acção de fármacos neste órgão, de modo a
perceber de que forma actuam sobre o organismo, fornecendo dados
importantes para o desenvolvimento e produção de novos medicamentos.
Neste momento, as experiências são feitas recorrendo a hepatócitos de
rato, mas a grande aposta destes investigadores é o recurso à cultura
de células estaminais humanas (que aguarda regulamentação em
Portugal).

Segundo a directora do LTCA, no laboratório de-senvolvem-se
estratégias para a produção de hepatócitos em estruturas
tridimensionais - semelhantes às que existem no organismo -, em
ambiente completamente controlado. A cultura de células nestes
ambientes abre inúmeras possibilidades. "Por exemplo, podemos
mimetizar um episódio de ataque cardíaco, fazendo variar diferentes
condições no reactor", refere Paula Alves. É também através destes
modelos in vitro que o laboratório desenvolve vacinas ou proteínas
para a terapia do cancro.

No caso da metodologia que permite a substituição de animais - o
Vitrocellomics -, o grupo de investigadores pretende, de acordo com
Paula Alves, "oferecer à comunidade um teste que seja fiável para
fazer a avaliação dos novos fármacos".

Além da equipa de cinco investigadores do IBET, o projecto conta com
mais sete parceiros europeus. Um deles é o Centro Europeu para a
Validação de Métodos Alternativos (ECVAM, na sigla em inglês), uma
entidade central no estudo. O ECVAM é o responsável, a nível europeu,
pela validação de métodos que substituam a utilização de animais em
experiências científicas. Criado em 1991, o centro surgiu como uma
resposta à Directiva de 1986 para a protecção das espécies utilizadas
para fins experimentais, estabelecendo como prioridade o
desenvolvimento de metodologias alternativas.

Como explica Paula Alves, no estudo do Vitrocellomics, o ECVAM tem um
papel de regulação. "Este garante a uniformização dos testes entre os
parceiros para depois serem distribuídos. Diz-nos quantas vezes temos
de repetir determinada experiência, avalia a variabilidade dos
resultados inter-laboratórios, a sua robustez e reprodutibilidade".

A validação do novo método ocorre após um processo de experiências e
de pré-validação, que pode ser moroso. Numa visita ao ECVAM, em Ispra,
Itália, organizada pelo antigo presidente do Intergrupo para o
Bem-Estar Animal, Paulo Casaca, no final de Maio, membros do mesmo
organismo alertaram para a necessidade de acelerar o processo de
validação, que pode chegar aos dez anos. Laura Gribaldo, investigadora
do centro, confirmou ao DN que o ECVAM está a trabalhar
prioritariamente na redução do tempo decorrido entre fase de validação
e de implementação. "Na melhor das hipóteses, este período será de
oito meses", refere.

O projecto desenvolvido por Paula Alves, em Portugal, iniciará o
procedimento de validação em Setembro. O estudo teve início em Janeiro
de 2006 e deverá prolongar-se até 2009. Para a sua concretização, o
financiamento comunitário foi fundamental, refere a investigadora. "No
caso do IBET, a participação não teria sido possível sem o
financiamento europeu", orçado em 500 mil euros. Integrado no 6º
Programa-Quadro da Comissão Europeia (CE), teve um custo total de
3,7milhões de euros, três mil dos quais financiados pela CE e
distribuídos pelos vários parceiros. "Estes estudos são muito
dispendiosos, não seria possível fazê-los sem subsídios", acrescenta
Paula Alves.

A nível nacional, os incentivos financeiros à pesquisa de métodos
alternativos à experimentação animal são escassos, o que dificulta um
maior envolvimento de cientistas portugueses. No entanto, a directora
do LTCA garante que "quem faz investigação são pessoas altamente
motivadas". Apesar dos obstáculos, verifica-se um crescente interesse
da comunidade científica, a nível global, por estas abordagens, pelo
que, em 2009, especialistas de todo o mundo nesta matéria reunir-se-ão
numa conferência internacional, em Roma.
http://dn.sapo.pt/2008/06/14/ciencia/testes_medicamentos_animais_dias_con.html
SÍLVIA NOGAL DIAS
http://ativismo.com/joomla/index.php?option=com_content&task=view&id=308&Itemid=89

2 comentários:

Anônimo disse...

É isso aí. E hoje tem mais novidade na área. Agora já é possível testar várias doenças em células humanas mesmo, deixando os animais em paz.
Veja: http://www.diariodasaude.com.br/news.php?article=cientistas-replicam-doencas-em-laboratorio-usando-linhagens-de-celulas-tronco&id=3393

[]s
Moisés

giovana mendhes disse...

Moisés mto obrigada pela visita e pelo link super importante, já foi para o blog^^
Mto obrigada

Somos Todos Um