sábado, 25 de julho de 2009

Idosa de Maringá cuida sozinha de 42 vira-latas

Dona Izaura já foi denunciada pelos vizinhos à Vigilância Sanitária e teve animais recolhidos pelo CCZ, mas a quantidade de animais de que cuida só faz aumentar

Em uma casa pequena da Avenida Monteiro Lobato, esquina com Rua Centenário, em frente à Estação Rodoviária de Maringá, a sexagenária Izaura da Silva vive com 42 cães, vários deles doentes.

Com exceção de 11 animais de porte grande, que estão em em um compartimento do lado de fora, todos os demais dormem dentro de casa, espalhando-se por sala, cozinha, banheiro e até no quarto da dona da casa, inclusive em cima da cama.

A presença de tantos animais em espaço tão pequeno faz com que a casa de dona Izaura chame a atenção pelo visual, pelo barulho e pelo cheiro.

Os vizinhos já denunciaram dona Izaura à Vigilância Sanitária, vários animais já foram recolhidos pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), mas a quantidade de cães só faz aumentar.


Abandonados

Além de ela recolher animais abandonados que encontra nas ruas, muitas pessoas que querem livrar-se de cães doentes ou velhos demais, simplesmente os colocam dentro do quintal dela.

Chegaram até a quebrar a grade da frente para passarem ninhadas de cães. Além disso, cães e cadelas vivendo misturados, há sempre o risco (ou certeza) de novas ninhadas.

Todos os animais quando chegam ganham novos nomes, geralmente relacionados a gente de destaque ou a características do animal. São Bill Clinton, Van Damme, Barack, Vermelho, Branquinho...


Sensibilidade

“Tudo é uma questão de sensibilidade”, explica ela. Aos 67 anos, viúva do despachante Evaristo Pelegrini, dona Izaura não teve filhos na convivência de 40 anos com o marido, quase não tem amigos, pois “quando tínhamos dinheiro, éramos pessoas recebidas em todos os grupos, mas quando o Evaristo ficou doente e tivemos que vender tudo, os amigos desapareceram”.

Hoje ela vive da pensão que o marido deixou, paga dívidas antigas e o pouco que sobra usa para comprar ração e remédios para seus melhores amigos. Ela sofre de uma hérnia duodenal, mas não pode operar porque não tem com quem deixar os cachorros.

“Sofro quando vejo um animal sofrendo por causa do descaso das pessoas”, diz. E indaga: “se uma pessoa não consegue gostar de um cão, que não reclama, não engana, como pode gostar de outra pessoa?”


Dificuldades

Por causa dessa sensibilidade aflorada, dona Izaura diz que sofre muito quando seus animais estão doentes. “Três deles estão com câncer, cinco são cegos e três são tão velhos que ficaram sem dentes”, explica.

Segundo ela, esses animais convalescentes recebem atendimento especial, mas há tem dificuldades porque ela não tem dinheiro para bancar o tratamento.

Quem se habilita?

Cansada por ter que cuidar de uma família tão grande e tão barulhenta - “à noite, quando um late, todos os outros começam a latir” -, Izaura quer doar seus animais.

Ela diz que gostaria que as entidades de proteção dos animais, o CCZ ou qualquer outra instituição assumisse a responsabilidade de cuidar dos bichos, aí ela poderá se dar ao luxo de ter um mínimo de descanso. Só não sabe se vai se acostumar a viver em uma casa vazia e silenciosa.

http://www.odiariomaringa.com.br/noticia/222245