Mônica Pinto / AmbienteBrasil
Os Jogos Olímpicos da China, de 8 a 24 de agosto, despertam, em muita gente, mais revolta do que euforia. Numa deformação atípica, o evento que tornou-se tradicionalmente sinônimo de valores elevados para os seres humanos, ao acontecer nesse país, mais os nega do que reforça.
Em 1993, Pequim pleiteou sediar os Jogos, sendo preterida, entre outras razões, pelo alto nível de poluição registrado na cidade. Em julho de 2001, convenceu o Comitê Olímpico Internacional de que realizaria “Olimpíadas Verdes” – uma promessa até agora não cumprida, conforme divulgado recentemente pela imprensa (leia em Pequim não atinge padrões de poluição a um mês das Olimpíadas).
Atletas de diversos países já externaram preocupação quanto às respectivas performances e a expectativa generalizada é que os Jogos na China não registrem grandes quebras de recordes. Pior que isso, a péssima qualidade do ar pode resultar até na morte de competidores, dado o extremo esforço a que se submetem.
Justiça seja feita, a China até que tentou. Fechou fábricas altamente poluidoras; promoveu “dias sem carro”, implantou técnicas para provocar chuva e dispersar poluentes, entre outras iniciativas.
Mas seus problemas em termos de imagem vão muito além da fumaça visível em Pequim. No campo dos direitos humanos, a Anistia Internacional aponta que a China continua ferindo as convenções globais e perseguindo de forma implacável seus dissidentes e opositores. Os prisioneiros políticos lotam o sistema penitenciário e são submetidos à tortura, cárceres precários e julgamentos sem direito à defesa. As execuções ainda são comuns, há denúncias sobre campos de trabalho em condições degradantes e sobre alto índice de exploração de mão-de-obra infantil.
A causa da independência do Tibet, um tanto esquecida desde o massacre de manifestantes pelo exército chinês na praça da Paz Celestial, em 1989, renasceu perante a opinião pública ocidental. A passagem da Tocha Olímpica foi marcada por manifestações pró-Tibet em diversos países. Diretamente, os membros do COI vivenciaram constrangimento em protestos de ativistas em frente ao hotel onde se reuniam em junho passado, na Grécia.
No mesmo mês, as autoridades chinesas encurtaram em três dias a etapa da chama olímpica no Tibet, cenário, em março passado, de uma violenta revolta antichinesa. No discurso oficial, a modificação se deu por causa do terremoto que devastou o sudoeste da China.
Liberdade de imprensa – ou melhor, a falta dela – é outro acinte aos direitos do cidadão naquele país. Em toda a porção democrática do planeta, a Internet é território livre. A China exerce um controle rígido na rede. Os internautas têm acesso a uma versão cheia de páginas censuradas, especialmente as de notícias, como a da BBC, fora as de organizações de defesa dos Direitos Humanos e todas as que forem consideradas subversivas pelo poder comunista.
Boicote organizado
Em 2005, a China já figurava como vilã número um em relação aos direitos animais. Em novembro daquele ano, por exemplo, o ex-Beatle Paul McCartney anunciou que jamais se apresentaria no país, indignado com o massacre de cachorros e gatos para a retirada de suas peles.
Esse é um mercado que encontra guarida em vários locais, mas, na China, chama especial atenção pela crueldade absolutamente desnecessária com que se processa. McCartney fez a declaração após assistir a um vídeo, gravado com câmara oculta em um mercado de Cantão, ao sul do país. As cenas, feitas pela entidade Peta (People for the Ethical Treatment of Animals), mostram atrocidades como o lançamento de gatos e cachorros do teto de um ônibus até o chão de cimento; gatos em sacos sendo colocados vivos em água fervente e homens rindo enquanto batem com paus em gatos e cachorros até a morte destes.
Desde 2006 – portanto há três anos consecutivos -, entidades de proteção aos animais de todo o mundo manifestam-se, no dia 13 de fevereiro, contra a indústria de peles na China. E o Brasil participa desse movimento.
“Um governo que não respeita os direitos humanos, não tem nenhuma legislação referente aos animais, um dos maiores poluidores do planeta, sem dúvida alguma, não tem moral para sediar uma Olimpíada. Trata-se de um grande equívoco ou de um grande golpe”, disse a AmbienteBrasil Fábio Paiva, líder do grupo “Pelo Fim do Holocausto Animal”, um dos organizadores dos protestos em território brasileiro.
”Os alienados e aqueles que estão de alguma forma envolvidos financeiramente com os Jogos Olímpicos, bem como os atletas, podem até não perceber ou fazer de conta que nada disso é verdade. Mas, aos olhos das centenas de entidades espalhadas ao redor do mundo, que lutam pelos direitos humanos e direitos animais, a Olimpíada de Pequim não será motivo para que amenizemos a pressão”, completa.
Essa pressão vem sendo concretizada pelo convite a um boicote completo aos Jogos.
Não precisa se ir muito longe para encontrar reprovação aos, digamos, métodos do país. No dia 18 passado, AmbienteBrasil publicou em seu clipping notícia com o título COI ameaça cancelar provas em Pequim por causa da poluição.
Vários leitores se manifestaram no espaço apropriado. Adriana Bastos disse: “Penso que o COI deveria boicotar as Olimpíadas pelas atrocidades que estão sendo cometidas com os tibetanos. Liberdade ao Tibet!!!”
A leitora Tereza opinou que “a China ainda vai se arrepender em querer sediar as Olimpíadas, pois ela esta se mostrando ao mundo e o que nós estamos vendo não é o que os chineses queriam nos mostrar...”.
Para completar o pacote de contradições dos jogos vindouros, mais uma informação: o evento que faz da busca pela superação sua marca; que festeja a saúde em todos os seus aspectos, é patrocinado por um ícone da chamada junk food (termo utilizado para definir alimentos com alto teor calórico e níveis reduzidos de nutrientes) – o McDonald’s.
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