A decisão da Comissão Baleeira Internacional (CBI) de manter o "status quo" atual sobre as baleias causou hoje polêmica entre os que apóiam a medida e os que afirmam que beneficia o Japão, que continuará com a caça científica desses cetáceos.
Os delegados dos cerca de 81 países que participam em Santiago do Chile na 60ª reunião da CBI acordaram a criação de um grupo de trabalho a fim de pactuar posições entre ambientalistas e caçadores.
O trabalho em consenso significa que não se submeterá a votação qualquer resolução, entre as quais figuram a proposta do Japão para reabrir a caça litorânea de baleias e a de Argentina, Brasil e África do Sul de criar um santuário no Atlântico Sul.
Segundo o estipulado pelo grupo de trabalho, integrado por 24 países e que funcionará a portas fechadas, as propostas serão analisadas nessa instância e os resultados serão apresentados na próxima reunião anual que será realizada em Portugal.
Enquanto os representantes da comissão afirmam que a decisão é "uma oportunidade" para a modernização e reforma da CBI, criada há 62 anos, os críticos acreditam que o único ganhador é o Japão, que a cada ano caça 1,4 mil baleias alegando razões científicas.
"Achamos que a CBI foi uma organização muito confrontadora, que não avançou nos temas e com poucos resultados", disse o ministro do Meio Ambiente e Energia da Costa Rica, Roberto Dobles.
"Agora se apresentou uma oportunidade para poder avançar e fazer mudanças que possam dar no futuro um enfoque para a preservação", acrescentou. Ele ressaltou que a iniciativa foi apoiada pela América Latina através do chamado Grupo de Buenos Aires, integrado por Argentina, Belize, Brasil, Chile, Colômbia (observador), Costa Rica, Equador, Guatemala, México, Nicarágua, Panamá, Peru e Uruguai.
"Estamos diante de uma oportunidade única para modificar uma organização que veio atuando de certa forma com paralisias", disse Dobles, lembrando que a moratória de caça de baleias, com exceção da científica e a de subsistência para comunidades aborígines, continua vigorando.
"Sabemos que as negociações que vêm são complexas", sustentou o ministro costarriquenho, que afirmou, no entanto, ser "otimista". Segundo outros delegados, a CBI estava "à beira do colapso" e o consenso obtido em torno de um grupo de trabalho especial pode ser seu salva-vidas.
O representante da Argentina, Miguel Íñiguez, disse que a reunião de Santiago foi "fundamental, pois após quase 60 anos as partes se sentam para dialogar para ver de que forma podem progredir".
"A CBI está tentando avançar em direção a um processo de modernização", ressaltou. "Um grupo de países, que são os conservacionistas, considera que este processo é importante para abrir um diálogo e para não voltar às discussões que se geraram anos atrás", ressaltou Íñiguez.
O responsável argentino destacou que todas as partes cedem quando se buscam acordos, ao lembrar que o Japão não apresentou a proposta de todos os anos para abrir a captura litorânea. Na sessão, a maioria dos delegados se pronunciou contra a pesquisa letal de baleias com fins científicos.
EFE