terça-feira, 28 de outubro de 2008

Organizados para saquear a natureza

Investigador da EIA examina uma pele de leopardo em Nagchu (Tibet). (Foto: Debbie Banks EIA/WPSI)

Crimes ambientais não são cometidos só dentro das fronteiras de cada país, redes organizadas internacionalmente movimentam dezenas de bilhões de dólares por ano, em todo o mundo. Mas como esses delitos, em geral, são percebidos como “sem vítimas”, acabam sendo deixados em segundo plano nas ações dos governos e nas demandas das comunidades. Esses são alguns pontos do relatório Crimes Ambientais: Uma ameaça ao nosso futuro, lançado pela Agência de Investigação Ambiental (EIA, sigla em inglês), uma organização sem fins lucrativos fundada na Inglaterra em 1984.

A extração ilegal de madeira é um dos destaques. A atividade causa um prejuízo de 15 bilhões de dólares por ano aos países em desenvolvimento, de acordo com estimativa do Banco Mundial citada pelo documento. “O tráfico de madeira envolve crimes maiores, não só o desmatamento ilegal, mas também a aquisição irregular de autorizações para extrair árvores, sonegação de impostos, transporte ilegal, uso de documentos forjados, declarações falsas aos clientes, suborno e corrupção de agentes oficiais e o suporte a outros crimes sociais e financeiros”, afirma o estudo.

Para ilustrar o problema, foi usado o caso da Indonésia, onde 80% do desmatamento é ilegal e acontece a um ritmo de 300 campos de futebol por hora. Estimativas do governo local apontam que esse processo de destruição das florestas custa 4 bilhões de dólares por ano ao país.

O relatório afirma que a maior parte dos lucros da destruição florestal fica com os grandes atravessadores, que levam o produto para consumidores finais em países como Estados Unidos e Inglaterra. O preço pago pelo metro cúbico de madeira nas comunidades que fazem a extração é de 11 dólares, mas o valor para o equivalente de material beneficiado no varejo norte-americano chega a 2.288 dólares.

Esse modelo de exploração predatória se sustenta na corrupção e na impunidade dos responsáveis. A EIA relata o caso do chefe de polícia indonésio Marthen Renouw. Ele foi inocentado pelo tribunal local, mesmo após terem sido encontrados em sua conta bancária 120 mil dólares advindos de transferências efetuadas por empresas ligadas à extração ilegal de madeira. Companhias que deveriam estar sendo investigadas por Renouw.

No país da Amazônia

O Brasil é reconhecidamente outro país em desenvolvimento que sofre prejuízos com o comércio madeireiro ilegal, que destrói continuamente um dos maiores patrimônios naturais brasileiros: a floresta Amazônica .

Segundo o pesquisador do Imazon (Instituto Homem e Meio Ambiente da Amazônia) Adalberto Veríssimo, a devastação da floresta tropical acontece porque “é lucrativo para alguns segmentos, o pecuarista e o madeireiro principalmente”. De acordo com ele, os benefícios do desmatamento desaparecem rapidamente, em um prazo médio de dez anos, gerando um colapso social e econômico nas comunidades onde a mata foi derrubada. Isso porque deixam de existir recursos naturais para serem explorados, e a agricultura, que normalmente toma o lugar da floresta após a retirada da vegetação, não cria empregos suficientes para toda a população.

Veríssimo disse que “o governo é esquizofrênico” ao tratar do problema. Ele avalia que, enquanto os órgãos ambientais tentam encontrar soluções, outros setores governistas trabalham em sentido contrário, como “quando o ministério da Agricultura pede crédito para ampliação da fronteira agrícola”.

Além da extração ilegal de madeira, o Brasil também tem grandes perdas com o tráfico de animais, a pesca predatória e a poluição de cursos de água por efluentes urbanos e industriais. Esse são os crimes ambientais que mais causam danos aos recursos naturais brasileiros, na avaliação do diretor de Uso Sustentável da Biodiversidade do Ibama, Antônio Carlos Hummel.

Ele prefere a terminologia “ilícitos ambientais” para descrever essa série de atitudes que agridem o meio ambiente. Segundo Hummel, pela lei brasileira, nem toda ação que lese o patrimônio ambiental é qualificada como crime. Existe uma gradação, que inclusive define a pena, em função da gravidade.

Peles, presas e cabeças

Elefante abatido no parque de South Laungwa, na Zâmbia (África) (Foto: Mary Rice/EIA)

O estudo da EIA fala ainda da caça de grandes felinos na Índia e no Nepal e da matança de elefantes em busca do marfim na Zâmbia (África). Nesse ponto, o documento afirma que “o alto lucro e o baixo risco (de ser descoberto, preso e condenado), fazem os crimes contra vida selvagem serem atrativos e essa forma de delito pode ser, inclusive, usada para financiar outras formas de crime”.

As peles de tigre (imagem no topo) e de leopardo são transportadas da Índia e do Nepal para a China através de rotas do mercado negro próximas à fronteira entre os dois países. De acordo com o relatório, seria importante que os países envolvidos trabalhassem em conjunto para desmantelar as longas redes de tráfico. “O futuro do tigre selvagem depende de um esforço inteligente e da melhora na cooperação internacional”, afirma o documento.

Já na África, com a proliferação de pequenos exércitos e de patrulhas anti-caça mal equipados, é cada vez mais difícil combater a matança de elefantes no Parque Nacional de South Luangwa, na Zâmbia, no interior do continente africano, entre Moçambique e a República Democrática do Congo. Em 2007 foram apreendidas 233 presas de elefante na vizinha Tanzânia, provavelmente provenientes do parque. O preço do marfim pressiona a caça: na África ele custa 15 dólares o quilo, mas no Japão chega a valer 850 dólares.“Além dos danos à biodiversidade do parque, a caça nessa escala se torna uma ameaça a florescente indústria turística da Zâmbia”, diz o relatório.

Pedaços de animais à venda: cabeça de pica-pau, pênis de quati e garras de preguiça. (Foto: Marcelo Pavlenco)

Do mesmo modo que acontece na Zâmbia, Nepal e Índia, em Belém (PA) é possível encontrar subprodutos da fauna brasileira à venda, como peles de onça, cabeças de pica-pau e garras de bicho-preguiça (ao lado). Segundo o presidente da ONG SOS Fauna, Marcelo Pavlenco, esse é o modo como os animais, em especial da Amazônia, são traficados para fora do país. Ele estima que uma pele de onça comprada por cem reais no Pará possa ser matéria-prima para produtos que custem até 4 mil dólares na Europa. Ele alerta também para o grande número de animais vendidos ilegalmente no Brasil, saídos principalmente dos biomas da Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga para o Rio de Janeiro e São Paulo.

Carlos Hummel, do Ibama, informou que os Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) recebem 50 mil animais apreendidos por ano. Mas ele ressalta que esse é apenas o “número concreto, o tráfico é bem maior”. Pela experiência adquirida em 19 anos de trabalho de campo contra o tráfico de animais, Pavlenco estima que o número de apreensões corresponda a cerca de 5% do total de espécimes retirados da natureza.

Mesmo entre os animais que são apreendidos, a maior parte nunca voltará a natureza. De acordo com Pavlenco, o que acontece na maior parte das vezes é a “lavagem de animais silvestres”, ou seja, os bichos deixam as mãos dos traficantes, a ilegalidade, e vão para outros tipos de cativeiro, legalizados, como criadores autorizados e zoológicos. Ele atribui esse procedimento, em parte, aos altos custos para se reintegrar um animal ao habitat natural.

“O tráfico de animais é gerado por problemas sociais e culturais nas regiões onde os bichos são capturados. É muito mais fácil tentar conter o tráfico na origem, com uma educação ambiental que mude os valores culturais e com políticas públicas com foco nos problemas sociais”, disse.

Outro fator que favorece o tráfico de animais, segundo ele, é a Legislação de Crimes Ambientais, que entrou em vigor em 1998. Essa lei passou a considerar os crimes contra a fauna como de menor potencial ofensivo, com a possibilidade de cumprir pena em liberdade. “Todo mundo sabe que pode praticar o crime que não vai preso”, reclamou.

Apesar de ter salientado que nem todas as ofensas ao meio ambiente são crime, Hummel apontou a impunidade como um dos maiores fatores para o descumprimento da lei. Na opinião dele, as pessoas só cumprem a lei quando percebem que os infratores são punidos.

O estudo da EIA estabelece uma pequena lista de soluções para enfrentar os crimes apresentados. Entre elas está o combate à corrupção, presente em quase todas as situações relatadas. Também a vontade política, aliada a cooperação internacional para o desenvolvimento de ações de investigação e inteligência contra os delitos que envolvem recursos naturais.
http://www.oeco.com.br/index.php/reportagens/37-reportagens/20029-organizados-para-saquear-a-natureza

Cão arrisca a vida para proteger filhotes de gato

O cachorro Leo arriscou a vida para proteger quatro filhotes de gato presos em uma casa em chamas, em Melbourne, na Austrália.
Quando o incêndio começou, a família que mora na casa e um de seus cães conseguiu escapar, deixando os outros animais para trás.

Os bombeiros encontraram Leo cuidando dos filhotes, que estavam em uma caixa de papelão, em um dos quartos da casa.

O cachorro já tinha perdido a consciência quando os bombeiros o tiraram da casa.

O animal teve que ser reanimado com massagem cardíaca, água e oxigênio, antes de reencontrar os filhotes.
http://noticias.uol.com.br/bbc/reporter/2008/10/28/ult4909u6186.jhtm

Crise financeira faz chihuahuas serem abandonados nos canis americanos

Los Angeles - Transformados em estrelas de cinema e em acessórios estilosos de famosos, os populares chihuahuas se tornaram vítimas de seu próprio sucesso e da crise financeira e são encontrados em número cada vez maior nos canis americanos.

Agora, estes pequenos e delicados animais de estimação chegam com mais freqüência aos centros de acolhimento de animais do sul da Califórnia, onde cerca de 700 chihuahuas esperam por um dono.

Um problema que é especialmente significativo no rico condado de Santa Bárbara, onde teve início esta semana uma campanha para atrair novos proprietários que queiram adotar os cães.

"Temos mais de 100 em nossos três centros e, desde que começou a semana, entregamos 12 chihuahuas, mas como continuam entrando, ainda há mais de uma centena deles nas instalações", explicou à Agência Efe a diretora do serviço de animais de Santa Bárbara, Jan E. Glick.

A demanda por estes cães disparou nos últimos anos, em grande parte devido a suas proporções (são os menores do mundo com cerca de 20 centímetros de altura e pouco mais de 2 quilos de peso), sua adaptabilidade e seu aspecto adorável.

Estas características fizeram deles o "melhor amigo" de pessoas com alto poder aquisitivo, o que levou estes animais, transformados em símbolo de status, a viajar em caras bolsas de celebridades e a aparecer nas páginas de revistas associadas ao luxo.

Artistas como Madonna, Brendan Fraser, Paula Abdul, Mickey Rourke, Britney Spears e, sobretudo ultimamente, Paris Hilton, foram flagrados com seus pequenos animais de estimação.

O sucesso desta raça de origem mexicana permitiu a realização do filme "Perdido para Cachorro" que, após sua estréia nos Estados Unidos, em 3 de outubro, se manteve como o filme de maior bilheteria do país por duas semanas, ficando à frente de produções como "Rede de Mentiras", protagonizada por Leonardo DiCaprio e Russell Crowe.

A crescente procura por esta espécie de cachorro, que poderia aumentar por efeito deste novo filme, combinada com o agravamento da situação econômica, terminaram, no entanto, por atingir estes atraentes cães.

"São muito populares na comunidade, mas agora as pessoas os estão abandonando. Até os recolhemos na rua. Achamos que a crise tem muito a ver com o que acontece. Há pessoas que perdem suas casas, mudam-se e não podem ficar com eles", afirmou Glick.

Entre julho e setembro, os bancos embargaram as casas de quase 80 mil californianos, 228% a mais que no mesmo trimestre de 2007, apesar de a hipoteca não ter sido o único fator que colocou os chihuahuas na rua.

O desencanto de alguns proprietários com o animal, que não atendeu às expectativas geradas pelos meios de comunicação, e o custo da ração e dos cuidados veterinários, surgiram como razões para o abandono desses cães.

"As pessoas os adquirem pensando que são essas adoráveis coisinhas que podem levar em seu bolso, mas não são um acessório. Estão vivos, respiram e requerem muito cuidado", explicou Anne Stockton, a diretora da organização Small Dog Rescue and Humane Society.

Tais circunstâncias atingiram até o cachorro protagonista do filme, chamado Papi, que foi resgatado de um canil pela equipe da produção.

"Não acho que seja ruim necessariamente que saiam em filmes. Pode acontecer de aumentar o número de expulsões pelo aumento da demanda devido à atração do que se vê no cinema, mas também pode ser que mais gente venha buscar chihuahuas nos centros de acolhimento de animais", declarou Glick.

Os chihuahuas não foram os primeiros a ser vítimas de seu sucesso. Algo similar aconteceu após a versão de "101 Dálmatas" em 1996, que gerou um interesse inusitado pela raça dálmata e, posteriormente, muitos deles foram parar nos canis.

A moda dos chihuahuas começou no início da década, por causa da estréia do filme "Legalmente Loira" (2001), no qual uma menina de Beverly Hills, interpretada por Reese Witherspoon, levava seu cachorro à Universidade de Harvard.
http://bichos.uol.com.br/ultnot/efe/ult2629u1165.jhtm

Sumiço de jararacas

A população da jararaca-ilhoa (Bothrops insularis), que só existe na Ilha da Queimada Grande, a 33 quilômetros de Itanhaém (SP), pode ter sido reduzida à metade em um período de dez anos, de acordo com um estudo realizado por pesquisadores do Instituto Butantan.

O estudo, publicado na revista South American Journal of Herpetology, indica que há cerca de 2.100 serpentes na ilha – aproximadamente a metade do número encontrado na literatura. A estimativa, feita por grupo que estuda a espécie desde 1995, faz parte de um estudo que tem apoio da FAPESP na modalidade Auxílio Regular a Pesquisa.

Para os cientistas, é provável que as serpentes venham sendo retiradas ilegalmente de seu hábitat. Embora o desembarque na ilha seja restrito a pesquisadores do Butantan, há relatos da presença de outras pessoas no local, passando-se por cientistas. Em São Vicente (SP), uma pesquisadora foi abordada por um homem que ofereceu R$ 50 mil por serpente.

O artigo foi elaborado por Otavio Marques, diretor do Laboratório Especial de Ecologia e Evolução (Leev) do Instituto Butantan, Márcio Martins, do Departamento de Ecologia da Universidade de São Paulo (USP), e Ricardo Sawaya, também pesquisador do Leev.

De acordo com Marques, os dados gerados pela pesquisa permitiram classificar a jararaca-ilhoa na categoria “criticamente em perigo”, o mais alto grau de ameaça de extinção pelos critérios internacionais. A jararaca-ilhoa foi incluída, no início de outubro, na lista das espécies da fauna silvestre ameaçadas no Estado de São Paulo.

“Fazemos viagens periódicas à ilha desde 1995 e nos últimos anos notamos intuitivamente que a população estava decrescendo – isto é, parecia haver muito menos cobras do que antes. Fizemos a estimativa populacional em 2002 e buscamos as planilhas com os registros anteriores. Percebemos que o número de animais relatados havia se reduzido à metade”, disse Marques à Agência FAPESP.

O método para a estimativa, segundo ele, consistiu em amostrar 26 quadrados de 10 metros de lado em diversos pontos da ilha, que tem 430 km², contando os espécimes. “Com a ajuda de uma botânica, calculamos o número de hábitats disponíveis e extrapolamos os dados para toda a ilha”, explicou.

O projeto de pesquisa tem o objetivo de estudar o uso do ambiente pela jararaca, comparar a disponibilidade dos recursos e verificar se eles estão influenciando no uso do substrato pela serpente. Além dos hábitos alimentares do animal, os pesquisadores estudam a sua biologia reprodutiva, trabalhando em coleção, com exemplares mortos coletados na ilha.

“A serpente tem hábitos arborícolas e migra, ao longo do ano, para pontos mais altos ou mais baixos das árvores. Um dos pesquisadores do grupo está estudando a disponibilidade, em diversas alturas, do alimento da jararaca, que consiste principalmente em aves migratórias”, disse.

Suspeita de tráfico


Karina Kasperoviczus, orientanda de mestrado de Marques, foi a pesquisadora abordada com oferta de dinheiro. O contato ocorreu em São Vicente, onde os pesquisadores partem para a viagem de duas horas de barco até a ilha.

“Eles nos abordaram e propuseram que, se trouxéssemos serpentes da ilha, venderiam e dividiriam o lucro conosco, metade para cada lado. Disseram que os receptadores comprariam quantas cobras pudéssemos trazer”, disse.

A pesquisadora e seus colegas dizem ter ido à delegacia para registrar um boletim de ocorrência, mas não puderam fazê-lo porque não dispunham de testemunhas ou gravação que comprovassem a oferta.

Marques afirma não saber o que os receptadores fazem com as cobras. “Talvez seja para vender como bicho de estimação. Mas não podemos esquecer que a jararaca-ilhoa tem um veneno muito especial”, disse.

Segundo Marques, por ser uma espécie com alimentação especializada – que, ao contrário de outras jararacas, não come roedores, apenas aves – e por estar isolada na ilha há pelo menos 11 mil anos, o veneno da jararaca-ilhoa, notoriamente poderoso, pode ter propriedades especiais.

“Certamente o veneno dela tem propriedades e toxinas muito específicas. É especulação, mas pode haver um interesse toxicológico. Temos fármacos feitos a partir de veneno de jararaca com grande impacto comercial, como o captopril, usado contra a hipertensão, que rende R$ 5 bilhões por ano à empresa que o fabrica”, apontou.

Seja qual for o uso dado às cobras, o pesquisador afirma que há indícios de que os animais estão mesmo sendo retirados da ilha. Pescadores trabalhando nas proximidades da ilha já relataram, por diversas vezes, a presença de outras pessoas na ilha.

“Os pescadores comentam que viram um pessoal do Butantan colocando as cobras em caixas de isopor e levando embora. Mas nós não utilizamos caixas de isopor e, em hipótese alguma, retiramos uma cobra da ilha. Já ouvi relatos assim de pelo menos três pessoas diferentes”, contou. Segundo ele, um doutorando do grupo encontrou, na internet, anúncio de venda da cobra em um mercado de Amsterdã, na Holanda.

Segundo Marques, os estudos indicam a necessidade urgente de fiscalização para coibir a remoção ilegal de serpentes, além de um programa de monitoramento para acompanhar as flutuações no tamanho populacional da espécie. “Fizemos uma proposta, há cerca de cinco anos, para transformar a Ilha da Queimada Grande em parque nacional, mas ela não saiu do papel devido à pressão das operadoras que promovem a caça submarina na área”, disse.

Como é inviável que alguém more na ilha, ainda repleta de serpentes, o pesquisador sugere que a transformação em parque nacional ou estadual é a melhor forma para melhorar a fiscalização. “É um local muito bonito e procurado para o mergulho contemplativo. Se tivermos um parque ali, podemos conseguir um grande fluxo de turistas, que inibiria o tráfico de animais, além de gerar recursos para os pescadores locais.”

O estudo da jararaca-ilhoa, de acordo com Marques, é de grande importância científica, já que a espécie tem uma biologia bastante distinta das jararacas continentais. Trata-se de uma espécie endêmica que vive em condições muito particulares, em um sistema fechado, sem uma pressão de predação muito grande. Isso tudo aumenta seu interesse científico.

“Além disso, ali temos uma condição de estudo de campo que não existe em nenhum outro lugar. Durante todo o período da minha tese de doutorado, na Mata Atlântica, vi meia-dúzia de jararacas. Na ilha, em um dia, podíamos ver 15 ou 20 bichos tranqüilamente”, disse.

O próximo passo, além do estudo de diversos aspectos da biologia reprodutiva e do uso do ambiente pela jararaca-ilhoa, será a criação de um sistema de conservação ex-situ para a espécie.

“Vamos atrás de recursos para criar compartimentos aqui no Butantan onde poderemos manter a serpente em ambiente semelhante ao natural. É um projeto complexo, mas nos dará uma possibilidade de reintrodução da espécie em seu ambiente natural, caso não consigamos impedir a extinção”, explicou.
(Fonte: Fábio de Castro / Agência Fapesp)

http://noticias.ambientebrasil.com.br/noticia/?id=41597