domingo, 18 de maio de 2008

ઇ‍ઉ Ecologia chega à moda e pede menos consumo

A ecologia está na moda, e em toda parte. A revista Metropolitan Home tem uma edição especial sobre projetos ecológicos. A Elle produziu sua primeira edição verde. A Barneys New York colocou à venda uma linha ecológica.

No editorial de sua edição ecológica, Elle afirma que "os dias em que ecologia queria dizer reciclagem doméstica e sapatos feios são coisa do passado. Os conservacionistas mais antenados sabem que não é preciso sacrificar o estilo para salvar o planeta. Stella McCartney, Lexus e Lulu Frost estão envolvidas na economia ecológica, e muitas empresas de beleza e de decoração doméstica também". Ops, a ecologia está se tornando questão de moda.

Não estou reclamando. Não quero criticar quaisquer esforços bem intencionados de promoção a um estilo de vida mais sustentável ou a uma redução das emissões de carbono pelas quais somos pessoalmente responsáveis. E gosto de boas roupas; jamais usei botinas.

Mas a realidade é que a maioria das coisas que podemos fazer para avançar em direção a um estilo de vida mais sustentável não nos tornarão mais glamurosos ou elegantes, ou nos valerão mais convites para festas. Elas são chatas, um pouco inconvenientes e podem até ser dolorosas. E, acima de tudo, o ponto, nelas, não é consumir mais, e sim consumir menos do que você faz agora.

"Eu muitas vezes digo que consumir diferente é bom, mas consumir menos é melhor", disse Colin Beavan, o chamado "homem do impacto zero", que está conduzindo uma experiência na qual ele, sua mulher, sua filha e o cachorro da família estão tentando viver com zero de emissões de carbono durante um ano, em um apartamento de Nova York.

Embora seja verdade que o estilo de vida impacto zero adotado pelos Beavan tenha atraído algum interesse - que inclui um contrato para um livro e uma proposta de filme -, ele não é de maneira alguma glamuroso. Beavan usa apenas transporte coletivo, faz compras em seu bairro, e sem embalagens, e chegou a desligar a eletricidade em seu apartamento por algum tempo.

"Existe essa idéia de que, se simplesmente comprarmos mais produtos ecológicos, tudo estará bem e poderemos continuar vivendo do mesmo jeito", ele disse. "Mas a verdade é que, para controlar as emissões, temos de pensar em uma mudança de estilo de vida. E isso não significa apenas usar diferente, mas usar menos".

Observado da perspectiva das emissões de carbono, a versão de ecologia proposta pelo mundo da moda tem suas limitações.

A coleção orgânica da Barneys consiste de roupas feitas de algodão orgânico e de carteiras de couro com um logotipo bonitinho em forma de bicicleta. A estilista Stella McCartney (que faz grandes esforços para produzir utilizando tecnologia que gere baixas emissões de carbono) tem uma linha de roupas "verdes".

Mas um relatório da Universidade de Cambridge sobre a produção das chamadas roupas sustentáveis, publicado no ano passado, apresentou sugestão bastante diferente ao setor de moda.

Uma das conclusões, por exemplo, era a de que rayon é, de muitas maneiras, o material mais ambientalmente benéfico (mais que o algodão orgânico) porque sua manutenção é fácil. A maioria das emissões associadas a uma peça de roupa em seu ciclo de vida se referem à lavagem e secagem, e não à fabricação.

O rayon pode ser lavado com água fria, e seca naturalmente. O algodão, em contraste, requer água quente para limpeza efetiva, e precisa ser passado ou secado em aparelho elétrico - duas atividades que geram imensas emissões. Será que a Barneys venderia roupas de rayon?

E em lugar de comprar novas roupas ecológicas de Stella McCartney a cada estação, a universidade sugere que as mudanças de estilo de vestir poderiam ser atendidas por um sistema de empréstimo ou arrendamento de roupas por um ano, em lugar de compra. (Nada de vendas suculentas, sob esse método.)

"No setor de moda, a simples regra é que ser ecológico requer comprar menos e lavar menos", diz Julian Alwood, professor de engenharia em Cambridge e um dos co-autores do relatório. "Lave suas roupas com menos freqüência e tome menos banhos, com água mais fria". Não é uma dica que você vá encontrar freqüentemente em revistas de moda.

Entre as recomendações ecológicas de Elle, está uma visita a uma vinícola orgânica na Califórnia a fim de descobrir tudo sobre como produzir vinho naturalmente. Eu não gostaria de desestimular os interessados nessa atraente viagem de férias, mas as emissões que eu geraria em uma viagem de Nova York a San Francisco, de avião, e de lá ao vale de Napa, de carro, cancelariam de longe qualquer conhecimento ecológico que eu pudesse adquirir.

A revista também recomenda uma linha de cartões de festas ecológicos. Por que não mandar um cartão eletrônico, em lugar disso? (Mas isso me conduz a território perigoso, já que esta coluna sai também em papel, e não apenas na Internet.)

A primeira edição completamente ecológica da Metropolitan Home tinha boas dicas sobre materiais ecologicamente sustentáveis para uso em reformas. A revista diz que "o objetivo era que os visitantes não percebessem que se trata de um espaço ecológico e sustentável". Sim, vamos esconder esse horrível segredo!

Em última análise a ecologia não é uma opção estética. A melhor maneira real de reduzir as emissões que sua casa gera, diz Allwood, é reduzir o aquecimento. "Se você estiver dentro de casa sem agasalho, nos meses de inverno, isso quer dizer que a temperatura da calefação está alta demais", ele diz.

Beavan, o homem do impacto zero, afirma que "algumas empresas estão mesmo tentando fabricar produtos mais ecológicos. Mas o espírito da coisa, para elas, é que você compre um produto porque ele está na moda, e o substitua quando essa moda passar".

Tradução: Paulo Migliacci ME

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