Em meados 2000 foi o Bonsai Kitten. Espalhou-se pela internet a informação de que gatos eram criados dentro de garrafas no Japão para que tomassem o formato do vasilhame. Tudo não passava de uma brincadeira de mau gosto. Biólogos e veterinários declararam ser impossível criar um ser vivo dessa forma e posteriormente comprovou-se que as imagens divulgadas eram fotomontagens.
Em seguida, no ano de 2005, vieram os Genpets, que seriam seres-vivos produzidos em laboratório, com temperamentos programados geneticamente para serem vendidos como se fossem meros brinquedos. A confusão foi alimentada por um site onde se poderia comprá-los via Internet e logo se propagou, em especial pelo Orkut. Porém, apesar de verossímil, site e bichinhos são falsos (a montagem pode ser conferida aqui). Adam Brandejs, artista responsável pela “brincadeira”, alegou que seu propósito é propor reflexões em torno das tecnologias genéticas.
Estes falsos boatos foram apelidados de Hoax (fraude ou falsificação em inglês), mensagens ou sites que costumam envolver emocionalmente os usuários de internet até que sua natureza fictícia seja revelada.
A exposição de Natividad
Atualmente, dois boatos têm tirado o sono de pessoas sensíveis à causa dos animais. O primeiro é uma história complexa, divulgada por e-mail e blogs internacionais, que envolveu pessoas de todo o mundo em torno de uma exposição de arte acontecida na Nicarágua. A história – com lances cruéis e final sinistro – movimentou um abaixo assinado que somou mais de dois milhões de assinaturas, além de gerar muita revolta e hostilidade contra os protagonistas.
Tudo começou quando, no dia 16 de agosto de 2007 o artista portoriquense Guillermo “Habacuc” expôs a obra “Exposición #1” em uma galeria chamada Códice na cidade de Manágua, capital da Nicarágua. Entre os elementos dessa exposição estava um cão vira-lata amarrado por uma corda a uma quina de parede. O cão foi nomeado Natividad pelo artista, o que seria uma homenagem ao morador de rua Natividad Canda, um nicaragüense morto por rottweilers enquanto era filmado pela mídia e observado por policiais que não tiveram a iniciativa de salvá-lo.
No dia 4 de outubro, o jornal La Nacion, de Porto Rico, publicou que o cachorro havia morrido de inanição após o primeiro dia de exposição. De acordo com eles, a informação vinha de Marta Leonor González, poetiza nicaragüense. A partir daí teve início o rebuliço e a comoção em torno do ocorrido.
Segundo organizadores do evento, Marta Leonor sequer esteve na mostra. Na mesma semana a galeria desmentiu a alegação da poetiza e revelou que o cão fugiu ao terceiro dia de exposição (a reportagem tentou contatar a poetiza Marta Leonor González, mas não obteve resposta). O suposto desaparecimento do cachorro durante a exposição teria dado margem ao surgimento de diversas versões.
Juanita Gonzales, a diretora da galeria Códice conversou exclusivamente com o Notícias da ARCA e garantiu que o animal foi alimentado satisfatoriamente durante o período em que esteve com eles, com comida levada pelo próprio Habacuc e que ficou apenas durante três diárias (o expediente da exposição). “Tanto eu como Guillermo temos mascotes e se Natividad não tivesse escapado, eu seguramente o teria adotado”, afirma. Enquanto isso, Guilermo Habacuc, que também conversou com o Notícias da ARCA, prefere um discurso mais hermético. Sempre que perguntado se o cão morreu, responde apenas “Natividad morreu”, referindo-se a Canda, o nicaraguense. Porém, ao jornal La Nación da Argentina, o artista revelou que “diante de um juiz diria que o cachorro não morreu”.
No descritivo em que propôs a obra para a galeria, o artista declarou que sua intenção com a montagem seria “produzir reações e comportamento similares aos ocorridos com Natividad Canda (...) que falassem a cada um sobre nossa condição humana”. Além do cachorro de rua amarrado (ele não fala em deixá-lo passar sede ou fome), os elementos relacionados no descritivo incluíam “a utilização dos meios de comunicação de massa: a imprensa escrita e a internet”. Parece que conseguiu.
Mais recentemente, com o anúncio de que Guillermo Habacuc representaria seu país na Bienal Centro-americana, surgiu um abaixo assinado para impedir que o artista participasse da mostra em Honduras (de 23 de julho a 20 de setembro). Na verdade, o artista representará a Costa Rica, mas com trabalhos inéditos sobre os quais não adiantou detalhes por estarem em estágio de concepção.
O caso continua mexendo com a sensibilidade das pessoas e artistas pelo mundo. “Mesmo que o criador não tenha deixado o cão passando fome e que o animalzinho não tenha morrido, só de ele sugerir essas idéias, já se torna um problema” opina a artista plástica brasileira Marisa Nunes. “Esse artista só quer aparecer e usou a fragilidade de um animal para isso”, critica.
Se é possível um lado positivo para essa história, é o fato de Natividad ter canalizado atenções sem precedentes para a situação de carência dos animais na América Central, em particular na Nicarágua.
A ARCA Brasil é contra o uso de animais em qualquer situação que ameace sua integridade física e comportamental, condenando atividades cruéis como rodeios, vaquejadas, rinhas ou corridas de animais.
O caso dos cinqüenta cachorros
O segundo caso que tem mobilizado os amantes dos bichos tem origem brasileira. Trata-se de um e-mail que circula pela internet contando sobre um canil que teve que fechar suas portas, deixando mais de cinqüenta cães de raça desabrigados. A história é verdadeira, mas aconteceu há cerca de um ano atrás e, graças a uma rede de cooperação, hoje todos os animais envolvidos já conseguiram um lar. A mensagem, com o pedido de ajuda original, circulou como se tivesse acabado de acontecer, mexendo com as pessoas que se sensibilizam com o bem-estar dos animais.
Esses episódios demonstram que a maioria das pessoas tem sensibilidade e está disposta a fazer alguma coisa pelos animais. Com essa reportagem, a ARCA Brasil espera ter colaborado com este processo até a tomada de decisão sobre a melhor maneira de investir os poucos recursos à disposição em prol dos bichos.
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