Por Leandra Rajczuk, da Agência USP
Uma pesquisa do Instituto de Biociências (IB) da USP mostra que ainda há grandes carnívoros no interior paulista, embora a vegetação nativa do estado – Floresta Atlântica e Cerrado – esteja muito degradada. Os resultados da pesquisa foram publicados em março deste ano na revista científica Biodiversity and Conservation em artigo de autoria dos biólogos Maria Carolina Lyra-Jorge e Giordano Ciocheti, sob orientação da professora Vânia Regina Pivello, do Laboratório de Ecologia da Paisagem e Conservação (LEPaC), do Departamento de Ecologia do IB.
Os pesquisadores verificaram que a maior parte desses animais é mais flexível do que se pensava e acreditam que os eucaliptais, embora não ofereçam os recursos necessários à fauna nativa, conectem trechos de vegetação original e permitam a sobrevivência das espécies em meio às plantações. “O padrão de uso de habitat pela maioria das espécies mostrou-se fortemente ligado às fisionomias de cerrado, indicando a importância da conservação desse bioma”, ressalta Giordano Ciocheti. “Além disso, trata-se de um trabalho que visa contribuir para a conservação desse grupo faunístico, que está sob forte efeito de uma paisagem altamente fragmentada, onde se encontram os maiores remanescentes de cerrado do Estado, apesar da ocupação desenfreada das terras paulistas.”
Ciocheti defendeu, no dia 17 de abril deste ano, a dissertação de mestrado, Uso de habitat e padrão de atividade de médios e grandes mamíferos e nicho trópico de Lobo-Guará (Chrysocyon brachyurus), Onça-Parda (Puma concolor) e Jaguatirica (Leopardus pardalis) numa paisagem agroflorestal, no estado de São Paulo, que contribuiu significativamente para o desenvolvimento do trabalho internacional.
As unidades de conservação encontradas na área de estudo foram: Parque Estadual de Vassununga, Estação Ecológica de Jataí e Estação Experimental de Luiz Antônio, que se encontram nos municípios de Santa Rita do Passa Quatro e Luiz Antônio e são gerenciados pela Fundação Florestal de São Paulo. Ciocheti afirma que, dentre as 17 espécies de mamíferos amostradas, aquelas com maior freqüência foram o Lobo-Guará e a Onça-Parda, seguidos pelo Cateto (Pecari tajacu) e pelo Veado-Catingueiro (Mazama guazoubira).
Tecnologia nacional
“Os mamíferos utilizam muito as estradas de terra e trilhas para a locomoção”, relata Ciocheti. Para tanto, foram espalhados, nesses locais, pontos fixos de coleta que variaram de acordo com o tamanho do fragmento na paisagem. Só para se ter uma idéia, em uma área aproximada de 10 mil hectares, havia dez pontos de coletas de armadilha fotográfica – câmeras que registram as imagens dos animais – e outros dez de canteiros de areia para identificar suas pegadas. “Nosso objetivo foi o de obter o maior número possível de fotografias”, informa. “Todos os equipamentos utilizados no projeto são de tecnologia nacional.”
Os autores contam que o critério de distribuição das câmeras também levou em conta a área total das diferentes classes de vegetação amostradas: cerradão, cerrado sensu stricto, floresta semidecídua e monocultura de eucalipto. “Desta forma, o número de câmeras foi diferente para cada classe, sendo 9 câmeras no cerrado sensu stricto, 7 no cerradão, 4 na monocultura de eucalipto e 3 na floresta semidecídua.”
Os resultados do estudo podem subsidiar estratégias de manejo que aumentem a conectividade funcional da paisagem no estado de São Paulo. “O uso dos plantios de eucaliptos por diversas espécies indica a importância de um manejo florestal que garanta mais segurança às espécies, como cortes intercalados de talhões, de forma a não deixar a área totalmente exposta durante a época de corte, proteção contra caçadores e manutenção do sub-bosque, tornando o ambiente menos contrastante com as áreas naturais”, reitera Ciocheti.
Além disso, para alertar sobre os principais cuidados que a população deve ter para evitar acidentes, a equipe realiza trabalhos de educação ambiental a partir da encenação de peças de teatro, como a adaptação da obra de Ângelo Machado, Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Guará. “Também procuramos atuar junto aos gestores dos parques”, conta Ciocheti. “A conservação das reservas legais só vai ocorrer mediante parceria entre as estruturas governamentais e os pequenos e médios proprietários privados, a partir de garantia da área de preservação permanente.”
Crédito da imagem: Maria Carolina Lyra Jorge e Giordano Ciocheti
(Envolverde/Agência USP de Notícias)
http://envolverde.ig.com.br/materia.php?cod=50846&edt=34
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