segunda-feira, 19 de maio de 2008

ઇ‍ઉ Crianças de 5 anos trabalham em lavouras no sul do Brasil

esta época do ano, as pequenas roças do sul do Paraná ficam vazias - um dos principais produtos agrícolas da região, o fumo, já foi colhido. Mas o trabalho continua dentro dos milhares de galpões e estufas espalhados por todo lado. E é onde centenas de crianças estão perdendo a infância.

“Comecei a trabalhar aqui com 8 anos. Só que com 8 anos eu não pegava no pesado”, conta um menino.

Antes de o fumo estar pronto para ser entregue para a empresa compradora, vem a fase mais demorada de todo o processo: é preciso separar e classificar folha por folha. “Estou fazendo uma boneca”, diz uma menina.

Boneca é o nome dado aos maços de fumo que já foram selecionados. Uma família inteira trabalha dentro do galpão: pai, mãe e os três filhos, o menino de 12 anos, a menina de 8 anos e o irmão mais novo. As mãozinhas frágeis dele já conhecem bem o trabalho - o menino tem apenas 5 anos.

Na casa, duas crianças têm responsabilidades de adultos. “O mais velho chega a ganhar, trabalha igual a um adulto. A menina é um pouco mais fraca, mas ajuda bastante”, afirma a mãe.

Por pressão da lei e controle dos professores, em geral as famílias não tiram as crianças da escola, mas elas passam a enfrentar uma jornada dupla. “Cedo eu estudo, depois do almoço eu vou trabalhar. De vez em quando eu brinco”, relata a menina.

“É torcer para chegar ao final do dia, para descansar”, comenta outra criança.

Pior são as férias. O período sem escola coincide com a colheita e, sem aula, o trabalho dura o dia inteiro. “Nas férias, tem que ir quase todo dia. Tem vez que é pesado”, reconhece a menina.

Na colheita do fumo, o corpo do trabalhador entra em contato com a folha verde e o organismo absorve grandes quantidades de nicotina. Os problemas para a saúde são enormes.

“A colheita dá tontura, ânsia, vômito”, confirma o agricultor Ari Volovitch.

“Você passa mal a noite inteira”, conta o pai das crianças.

Nos adultos, os sintomas são fortes. Nas crianças, são devastadores. “A gente passa mal, não sei por quê. Começa a dar vômito”, queixa-se o menino.

“Dá tontura, vômito, fraqueza, você não come nada”, diz o agricultor José Puchekeviskl.

“A gente que é mãe sofre vendo os filhos”, admite a mulher.

O estudo feito pelas universidades de Brasília e americana Johns Hopkins demonstra que a saúde das crianças que trabalham no fumo é preocupante.

“As crianças, só de participar, de ajudar, de pegar a folha de fumo, de manejar com elas, apresentavam quantidade de nicotina no organismo compatível com a de uma pessoa fumante”, alerta o pesquisador da UNB Guilherme Eidt.

“Só no Paraná, são em torno de 80 mil crianças e adolescentes”, afirma a procuradora do Trabalho Margareth Matos.

Em dezembro do ano passado, o Ministério Público entrou com ações contra seis empresas fumageiras. O MP quer que as empresas sejam punidas pelo trabalho das crianças. Para o Ministério Público, os pais são praticamente obrigados a colocar os filhos para trabalhar, por causa dos contratos impostos pela indústria aos agricultores.

“Tenho que entregar o fumo para a empresa. Não vou receber nada em dinheiro, fico devendo para um, para outro”, lamenta o agricultor Edson Antonivicz.

“Você vai lá e empresta R$ 1 mil à empresa, faz o chamado custeio e fica mais amarrado ainda”, conta o agricultor Getúlio Gomes Filho.

“Estou devendo hoje mais de R$ 4 mil”, calcula um agricultor.

“Está em R$ 40 mil”, diz outro.

“Está em R$ 60 mil”, conta o pai das crianças mostradas na reportagem.

“Quem se beneficia do trabalho dessas crianças e adolescentes não são as famílias, mas indústrias fumageiras, que se enriquecem”, denuncia a procuradora do Trabalho.

“As empresas estão muito tranqüilas quanto aos contratos, que são legais. E quanto às ações do Ministério Público, as empresas estão agora tomando suas medidas”, responde o presidente do Sindfumo Iro Schunke.

“Tenho certeza de que as empresas sabem, porque, quando o orientador vem, vê que as crianças estão trabalhando”, diz o pai das crianças.

“O trabalho infantil é um problema nacional”, comenta o presidente do Sindfumo.

O repórter pergunta a uma das crianças: “O que você pensa em fazer quando ficar mais velho?”

“Trabalhar, trabalhar e só”, responde um menino.
(Fonte: Fantástico / Rede Globo)

Clique aqui para assistir a reportagem.


http://www.ambientebrasil.com.br/noticias/index.php3?action=ler&id=38265

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