terça-feira, 22 de julho de 2008

Veneno de cobra da Amazônia é vendido por US$ 31 mil no exterior

Por Chico Araújo, da Agência Amazônia

Animais, plantas, essências, sangue humano e até veneno de cobras da Amazônia tornaram-se negócio lucrativo.

BRASÍLIA – O comércio de animais, plantas, essências, sangue humano e até veneno de serpentes da Amazônia tornou-se um negócio bastante lucrativo no planeta. A constatação está no relatório da CPI da Biopirataria, encerrada em 2005.

Depoimentos revelam que o grama do veneno da cobra coral é comercializado por US$ 31 mil e uma arara canindé custa US$ 1,8 mil. A venda de veneno de cobra e essências de plantas tornou-se corriqueira em algumas regiões brasileiras. Ele aponta a pouca fiscalização como causa principal.

Durante as investigações, a CPI da Biopirataria se deparou com outros dados preocupantes. Os deputados ficaram sabendo que uma espécie de cobra jararaca contrabandeada da Amazônia vale hoje mais de US$ 1 mil , e uma aranha-marrom, US$ 800. Eles também descobriram que sapos amazônicos podem custar de US$ 300 a US$ 1,5 mil e besouros coletados na região do rio Solimões, no Amazonas, podem valer até US$ 8 mil.

O professor Gonzalo Enriquez, professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), avalia esse tipo de comércio só vai diminuir quando o governo investir no controle da biopirataria. Para ele, “a inércia governamental tornou o Brasil refém dos detentores das tecnologias da ponta, que buscam de forma arbitrária a transferência de recursos genéticos para suas indústrias, principalmente a farmacêutica”.

Enriquez lembra que o tráfico de animais silvestres movimenta hoje de US$ 10 a US$ 20 bilhões no mundo. No Brasil, segundo os cálculos do professor, a cifra atingiu US$ 1,5 bilhão ao ano. Isso representa cerca de 40 mil animais silvestres. “A situação é muito grave”, reconhece o coronel Antônio Carlos de Brito Azevedo, comandante do Batalhão de Polícia Ambiental do Pará. Azevedo diz que as extensas fronteiras amazônicas, aliado à pouca fiscalização e à documentação esquentada, facilitam a prática da biopirataria.

“Para combater a biopirataria, a saída é promover e incentivar a pesquisa e o desenvolvimento para o conhecimento e a exploração da diversidade biológica do País”, sugeriu Ione Egler ao depor na CPI. Egler atuava como coordenadora de Políticas e Programas de Pesquisa em Biodiversidade, Ministério da Ciência e Tecnologia.


Terra preta contrabandeada

Outro tipo de saque foi revelado pelo professor Frederico Arruda, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). De acordo com ele, a terra preta, uma espécie de rocha que só existe ao longo dos rios Negro e Nhamundá, no Amazonas, vem sendo saqueada de nós, juntamente com o material arqueológico nela contido. Essa terra estaria sendo levada para os Estados Unidos e Europa para melhorar a qualidade de solo nas regiões agricultáveis.

Arruda também que as rãs Phyllomedusa bicolor, conhecida popularmente por sapo kampô, têm sido alvo de biopiratas. Esse tipo de rã é contrabandeado devido a seu potencial farmacológico. A Phyllomedusa contém demorfinas e foi contrabandeada para a Europa, especificamente para a Itália, a partir do rio Javari, pela antropóloga Katharine Milton, da Universidade da Califórnia. Segundo Arruda, os biopiratas têm usado índios para retirar material genético e essências de plantas e animais da Amazônia.

No seu depoimento à CPI, o professor Frederico Arruda contou ter sido alvo, há mais de duas décadas, de tentativa de cooptação para a prática de biopirataria. Segundo Arruda, os aliciadores seriam os italianos Franco Caneva, da empresa Simes, de Milão, Itália, e Vittorio Krispamer, do Istituto di Farmacologia Médica da Universidade de Roma. “Eles queriam que eu enviasse para o exterior, pelos correios, plantas e peles da rã Phyllomedusa”, contou. Em troca do serviço, os italianos teriam prometido dinheiro e co-autoria em trabalhos científicos.

(Envolverde/Agência Amazônia)


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