segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Pingüins filhotes e fraquinhos chegam em número recorde ao Brasil

CÍNTIA MARCUCCI
da Revista da Folha

Quem visita as praias do litoral norte de São Paulo nesta época do ano tem grandes chances de cruzar com pingüins. Todo inverno, as aves, vindas da Patagônia, passam perto da costa brasileira em busca de alimento. Mas, neste ano, a quantidade de animais que chega na areia ou perto dela é recorde. Em pouco mais de um mês, cerca de 200 pingüins apareceram no litoral paulista. Muitos outros chegaram ao Espírito Santo e à Bahia, o que, segundo os especialistas, é pouco comum.

A aparição dos animais nas praias é divertida para quem os vê. Mas não para os bichos. Em geral, eles são pingüins jovens, de menos de um ano de idade, que se perderam do bando e mudaram de rota. Por conta disso, muitos apresentam problemas de saúde e precisam de cuidados especiais para sobreviver.

Divulgação
Pingüins-de-magalhães (_Spheniscus magellanicus_) invadem o litoral brasileiro nesta época vindos do extremo sul do continente
Pingüins-de-magalhães (Spheniscus magellanicus) invadem o litoral brasileiro nesta época vindos do extremo sul do continente

Na maioria das vezes, os pingüins chegam à costa com fome, hipotermia (baixa temperatura corporal) e sem forças para continuar nadando. Cerca de 20% deles aparecem mortos. Dos que chegam vivos, entre 60% e 70% respondem bem aos cuidados e sobrevivem.

Parte das mortes ocorre por falta de conhecimento da população. Ao encontrar um pingüim, tem gente que acredita que o bicho está passando calor. E, na melhor das intenções, o coloca dentro de isopores com gelo. Já houve casos até de quem mantivesse os bichos na geladeira de casa.

De volta para a casa

O destino dos animais nem sempre é o mar. A primeira opção é enviá-los para zoológicos, aquários e instituições de pesquisa no território nacional. Os que são devolvidos para as águas vão em bandos e precisam esperar a época certa do ano em que as correntes são favoráveis para regressar rumo à região sul do continente. A idéia é não colocar demais o dedo humano no curso natural da espécie.

É muito raro encontrar um pingüim adulto perdido. Os que ficam nessa situação são, geralmente, "calouros" de primeira viagem. Trata-se de um processo de seleção natural: os mais fracos não completam a jornada.

''A espécie não está ameaçada de extinção. Uma intervenção de devolução em massa dos animais reabilitados poderia ser maléfica para o equilíbrio do ecossistema em que vivem'', explica o oceanógrafo Hugo Gallo Neto, diretor do Aquário de Ubatuba, local que recebe e trata os animais que se perdem no litoral paulista e sul fluminense em parceria com a ONG Instituto Argonauta, de conservação costeira e marinha.

As duas instituições são as únicas autorizadas pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) para resgatar aves e mamíferos na região.

No centro de reabilitação, todos recebem anilhas de identificação e passam por exames para averiguar peso, temperatura e estado de saúde. Além de desnutridas, há aves que passam por cirurgias no bico e que apresentam infecções pulmonares. Em situações como essas, os pingüins precisam receber soro, antibióticos, vitaminas e vermífugos para ficarem saudáveis.

Raio-x da espécie

Nome: pingüim-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus)

Origem: Patagônia (argentina e chilena); os que vêm ao Brasil são da Argentina

Hábitos: vivem em grupo, formam casais monogâmicos e nadam depressa

Tamanho: de 60 cm a 70 cm

Peso: até 5 kg

Época reprodutiva: de setembro a março; a fêmea põe dois ovos por ano

Migração: entre junho e setembro; eles pegam carona na corrente das Malvinas, que sai do sul em direção aos trópicos, em busca de comida

Características: plumagem preta e branca; os juvenis, encontrados nesta época do ano, são acinzentados

Onde saber mais: www.aquariodeubatuba.com.br e www.institutoargonauta.org

Fontes: Aquário de Ubatuba e Instituto Argonatuta

http://www1.folha.uol.com.br/folha/bichos/ult10006u429328.shtml

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