sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Até o fim do mês, dezenas de baleias devem chegar à costa brasileira

Todos os anos, elas realizam seu ritual. Cruzam o planeta em busca de águas quentes e acabam visitando a costa brasileira por três meses. As baleias francas e jubarte já começaram a chegar e devem ficar aqui até novembro, quando seguem a jornada pela costa da Argentina. Os maiores animais do mundo viajam fugindo do inverno rigoroso da Antártida e se abrigam nas águas quentes da América do Sul para se alimentar e reproduzir.

As baleias franca, que começaram a chegar ao país no fim de julho, são as mais exibicionistas. Costumam se aproximar de embarcações e levantam a cauda sempre que percebem que estão sendo observadas. Na semana passada, 23 animais das duas espécies foram avistados. Até o fim de setembro, o número deve ser pouco maior que 200, segundo estimativas da ONG Greenpeace, que monitora a movimentação desses mamíferos por mares internacionais. Isso representa uma população cerca de 14% maior do que a observada no ano passado. “Há três anos, quando essas baleias ainda eram muito caçadas em águas internacionais, a população que chegava aqui não passava de 50”, diz o biólogo Carlos Honorato, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

À medida que aumenta a população de baleias no mundo, cresce a cobiça das empresas de caça, que operam principalmente no Japão. No mês passado, os integrantes da Comissão Internacional Baleeira (CIB) passaram uma semana reunidos em Santiago, no Chile, para tentar aprovar a criação do Santuário de Baleias do Atlântico Sul. Como a idéia causa constrangimentos diplomáticos entre os países que são contra e a favor da caça desses animais, a decisão foi adiada para o ano que vem. O santuário ocuparia uma área que se estenderia da costa da América do Sul até a África, abaixo da linha do Equador até o paralelo 60, na Antártida (ver mapa). Sua principal função seria proteger as baleias que migram pelo planeta.

Turismo
A proposta é encabeçada pela Argentina e defendida por países que exploram o turismo de observação, como Brasil, Chile, Costa Rica, Equador, Guatemala, México, Nicarágua, Panamá, Peru e Uruguai. No entanto, potências como o Japão — que caça as baleias para diversos fins, inclusive comerciais — são contra a criação do santuário. O Brasil justifica a criação da área de proteção alegando que, das oito espécies de baleias com barbatanas existentes no planeta, sete percorrem águas brasileiras: franca, azul, fin, sei, bryde, jubarte e minke. “O santuário é importante para garantir o nascimento de filhotes”, ressalta Honorato, do Ibama.

Segundo ambientalistas que lutam pela preservação, o Japão representa a maior ameaça a essas espécies. O país ainda mantém a tradição de comer carne de baleia. Apesar de a moratória à caça comercial vigorar desde 1986, os japoneses possuem uma cota de captura científica na Antártida que atinge cerca de mil animais por ano. O governo japonês reconhece que a atividade resulta na venda de 5 mil toneladas de carne de baleia por ano no país. Segundo informa o site da Divisão Oceânica da Agência de Pesca do Japão, a intenção do país é voltar a caçar as baleias para pesquisa.

Com base nesses argumentos, o Japão abate na região da Antártida até 935 baleias minke, espécie que aparece como “risco menor de extinção” na lista de animais ameaçados elaborada pela União Internacional para a Conservação da Natureza. Estão ainda na cota anual dos japoneses outras 50 baleias fin, espécie considerada “em perigo”, e 50 jubartes, classificadas na categoria “vulnerável”. O Brasil só proibiu a caça na década de 1980 e hoje defende o uso não letal desses animais, como o turismo para observação, atividade que está em expansão.

A polêmica em torno da caça promovida pelos japoneses ganhou força na reunião do CIB, no Chile, depois que a Dinamarca resolveu propor uma votação para ampliar a quantidade de baleias jubarte que pode caçar para fins comerciais. O país não conseguiu esse direito, mas foi por pouco. Foram 36 votos contrários à idéia e 31 a favor. “O Santuário de Baleias do Atlântico Sul deveria ser adotado este ano para tirar as baleias desse risco”, protesta Leandra Gonçalves, coordenadora da campanha pelas baleias do Greenpeace, que participou do encontro em Santiago. Ela acredita que no próximo encontro, em 2009, na Ilha da Madeira, em Portugal, será possível conseguir aprová-lo.

Segundo Leandra, além do Japão, Islândia e Noruega são países que praticam a caça em maior escala. Mas todas as forças dos ambientalistas se concentram contra o Japão, que é acusado de fazer lobby com países menores para impedir a criação do santuário. “Os japoneses compram votos de países africanos e caribenhos, que acabam votando a favor de interesses dos baleeiros”, acusa a ambientalista.

http://www.correiobraziliense.com.br/html/sessao_18/2008/09/12/noticia_interna,id_sessao=18&id_noticia=31799/noticia_interna.shtml

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