domingo, 7 de dezembro de 2008

Pesquisador da UnB mapea locais do Paranoá onde vivem jacaretingas

À noite, a luz da lanterna facilita a localização de jacarés, já que os olhos deles são vermelhos e brilhantes. Com o sol a pino, a carapaça os ajudam na camuflagem. Para encontrá-los, é preciso andar pelas margens de rios, riachos e lagos, longe de residências e clubes, embarcações e banhistas. É preferível ir de caiaque. O barulho de lancha a motor afasta os répteis. A surpresa para alguns é que se pode fazer isso. Encontrar esse animais, bem aqui, na capital federal.

Quem não se lembra do maior réptil visto nas águas do Paranoá em março de 2007? Conhecido como jacaré-açu ele media 3,5 m de comprimento. A suspeita é de que fosse o mesmo visto no deck de uma casa do Lago Norte, em abril de 2006. De sua espécie, no entanto, não se teve mais notícia pelo lago. Mas um outro, menor, pode virar atração.

Isso porque, quem passa pela séria aventura de encontrar, estudar e mapear os bichanos nas águas do Paranoá há mais de um ano é o mestrando em ciências florestais pela Universidade de Brasília (UnB) o engenheiro ambiental Victor Botelho Graça Veras Batista, de 27 anos. Na metade de sua pesquisa, ele já avistou os répteis da espécie Caiman crocodilus, conhecida como jacaretinga, por 44 vezes em riachos que desembocam no Lago Paranoá.

A pesquisa Uso de habitat, ecologia e conservação do Caiman crocodilus em ambientes naturais e artificiais do Distrito Federal é inédita. Iniciada em julho do ano passado, deverá ser concluída em julho de 2009. E vai resultar no mapeamento dos locais onde os animais se concentram aqui no DF. Até hoje, três pontos foram identificados como os preferidos dos répteis (veja arte). O fato é que os jacaretingas são comuns em uma área que compreende desde São Paulo, Minas Gerais, Centro-Oeste até o México.

Para encontrá-los, Victor — acompanhado do colega e biólogo, Guilherme Santoro, e orientado pelo professor do departamento de engenharia florestal da UnB, Reuber Brandão — dedica três dias por semana para vasculhar o lago. E começa a vigília ao entardecer. “Eles preferem espaços onde existem outros animais, alimento e abrigo. E menos circulação de pessoas”, explica.

Em um dos riachos que chega ao sul do Paranoá, no ponto de desaguamento do Riacho Fundo, foi onde se registrou a maior ocorrência dos animais. Os jacarés foram vistos ali por 28 vezes. Victor identificou quatro filhotes, com cerca de 40 centímetros de comprimento. O maior réptil visto até agora media, aproximadamente, dois metros. O máximo que podem atingir é 2,5 metros.

No Ribeirão do Gama, também na parte sul do Paranoá, o pesquisador registrou por 12 vezes o aparecimento dos jacaretingas. No Ribeirão Bananal, no lado norte do lago, foram quatro. “Vimos adultos, jovens e filhotes. Sinal de que existe uma população. Mas neste estágio da pesquisa, ainda não podemos afirmar a quantidade de répteis que existem no DF”, explicou Victor.

Durante a pesquisa, o mestrando registrou cinco vezes a presença dos animais próximo à Ponte do Bragueto. Sinal de que precaução nunca é demais. “Tem muita gente que pesca e vive por ali. Não é do jacaré o comportamento agressivo. Quem tem essa característica é o crocodilo. Mas não se pode prever a reação de um animal selvagem”, explica.

Conservação
A intenção do engenheiro ambiental é que, com o resultado da pesquisa, a conservação da espécie no Lago Paranoá seja incentivada. E que o estigma que o réptil carrega de atacar os seres humanos seja minimizado. Isso porque, o jacaré, além de ser nativo da região, é essencial para manter a diversidade nos ecossistemas.

“É preciso mantê-los porque eles são vetores de informação sobre a saúde do lago e atuam na manutenção da diversidade de espécies. Eles se alimentam desde insetos, passando por peixes, até invertebrados de grande porte. Além disso, os jacarés mostram que o lago não é apenas uma área de lazer, mas também de refúgio para a vida silvestre”, conta. Durante as rondas no lago, os pesquisadores observam os tamanhos, as características dos animais e tentam capturá-los para avaliá-los com maior precisão. Mas Victor só conseguiu, até então, examinar um deles.

O jacaretinga capturado, uma fêmea de 1,3 metros de comprimento que pesa 10 quilos, é a primeira que está sendo monitorada, desde setembro quando foi encontrada próximo à QL 16 do Lago Sul. “Esperamos marcar o máximo de jacarés. Isso é importante porque eles são indicadores da qualidade do ambiente em que vivem. Pesquisando-os, poderemos obter informações sobre seu crescimento e reprodução e, conseqüentemente, sobre o Lago Paranoá”, acrescentou.

http://www.correiobraziliense.com.br/html/sessao_13/2008/12/07/noticia_interna,id_sessao=13&id_noticia=55295/noticia_interna.shtml

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