quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Quase 400 animais são resgatados de obras do trecho sul do Rodoanel

SÃO PAULO - Quase 400 animais já foram capturados em cerca de um ano e meio de obras do trecho sul do Rodoanel, na região de Mata Atlântica onde a rodovia vai cortar a região do ABC, na Grande São Paulo. Entre eles, estão 9 filhotes de gambá, e marsupiais raros de serem vistos, como as cuícas de três listras e as catitas. Pelo menos 129 desses animais precisaram de cuidados veterinários antes de serem encaminhados para parques e zoológicos, onde se recuperam antes de serem devolvidos à natureza. Outros 124 foram atendidos e libertados em seguida.

De acordo com o veterinário Plínio Aiub, durante toda a obra, 30 animais morreram, mas só três deles em decorrência direta das máquinas usadas para abrir a via.

- Foram dois lagartos e uma jararaca, que foram atropelados - conta o veterinário, afirmando que as outras mortes não têm ligação direta com a abertura da estrada.

- Tivemos, por exemplo, um veado que encontramos com mordidas de cachorro. Operamos, cuidamos, mas não conseguimos salvá-lo. Encontramos também uma fêmea de gambá já morta e, na bolsa dela, estavam nove filhotes bem novos, com cerca de uma semana. Esses a gente conseguiu salvar. Demos leite e cuidamos até que fossem soltos - afirma Aiub.

Segundo Aiub, ao contrário dos botânicos que trabalham na área e já encontraram dez plantas ameaçadas de extinção, não houve surpresas em relação aos animais encontrados no trecho. Eles já haviam sido mapeados durante o Plano de Impacto Ambiental. Mesmo assim, foram encontrados bichos que vivem em mata fechada e são difíceis de serem vistos.

- Encontramos cuícas de três listras e catitas, marsupiais que dificilmente são vistos, já que habitam matas fechadas - afirmou o veterinário, lembrando ainda que primatas como bugios e bichos-preguiça também foram achados.

Para evitar que as máquinas que abrem o Rodoanel atropelem os animais, o veterinário faz 'apitaços' e muito barulho juntamente com os operários para que os bichos fujam da mata que será derrubada. Antes que elas passem pelo local os operários ainda fazem uma varredura para saber se há retardatários, normalmente cobras e lagartos que têm mais dificuldade de locomoção.

- Como fizemos um trabalho de educação ambiental com os operários, é muito interessante perceber o retorno. Até mesmo as cobras, que em geral dão mais medo, eles já aprenderam a respeitar e gostam disso. Eles aprenderam a capturar e depois esperam nossa chegada para ver o que fazer - diz Aiub.

Quando encontram ninhos com ovos, a coisa é diferente.

- Houve casos em que a obra parou e esperamos os ovos eclodirem - afirma o veterinário, contando que isso já ocorreu 29 vezes nos últimos meses.

- Em geral são ninhos terrestres, de quero-quero ou anani - afirma.

Segundo ele, que é contratado pelas empresas responsáveis pela obra, o trabalho na área vai se estender por mais dois anos depois que o trecho do Rodoanel Sul estiver pronto.

- Neste primeiro momento, fazemos o resgate, depois vamos saber como os animais ficarão nas áreas e parques no entorno das vias - diz.

Entre os parques que ajudam nessa recuperação estão o Semasa, em Santo André, e o zoológico Estoril, em São Bernardo do Campo, ambos na Grande São Paulo, além do departamento de Fauna do Parque do Ibirapuera e do Parque Ecológico do Tietê.

http://oglobo.globo.com/sp/mat/2008/12/02/quase_400_animais_sao_resgatados_de_obras_do_trecho_sul_do_rodoanel-586812816.asp

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