terça-feira, 22 de junho de 2010

Pensando a mudança

Era dia de festa. A cidade toda enfeitada: bandeirolas e faixas nas cores nacionais dos colonizadores balançavam ao vento nas fachadas dos prédios. A banda se apresentava: nenhuma das músicas era nova, mas ainda chegavam bem aos ouvidos. Queijos, embutidos e vinhos sobre mesas postas em frente a quase todas as lojas do comércio estavam à disposição para matar a fome e a sede ou alimentar a gula de qualquer um. Moradores e turistas caminhavam sorridentes pelas ruelas da cidade toda prosa ante sua comemoração anual mais importante: os festejos referentes à fundação do patrimônio que se tornaria São Virgílio. Pequeno, histórico, de colonização europeia, portador de um clima ameno em todos os meses do ano, em meio às montanhas e os vales das Altas Serras do Rio das Virtudes… assim era aquele município
orgulhoso.

Todos pareciam se divertir bastante. Uma atmosfera de comunhão pôde até ser percebida por cidadãos desavisados, mas bastava um pouco de mais atenção para perceber as inconsistências da alegria supostamente reinante.

Maltrapilhos pelos cantos… pessoas de famílias mais pobres pelas bordas, vergonhosos de se apresentarem ante tanta gente bem arrumada… cães abandonados cabisbaixos por entre as pessoas tão ocupadas… e como se não bastasse essa composição já digna de nota, um caminhão lotado de bovinos pedia passagem por entre os transeuntes. Certamente rumando em direção a algum abatedouro. Evento corriqueiro, mas naquele momento pareceu como de propósito. Ninguém percebeu sua passagem, nem mesmo o olhar assustado dos animais que seguiam nele. Eu também estava lá e não fiz outra coisa se não me obrigar a deixar o local. Outros talvez fizeram o mesmo… nada mais que isso: uma típica posição de não deixar ver os olhos o que não se quer que sinta o coração.


Impotência ou covardia?

Suponhamos que tivesse sido apenas covardia e eu a tivesse vencido. Talvez teria sido mais ou menos assim…

<<< Ninguém percebeu a passagem do caminhão apinhado de bois, nem mesmo o olhar assustado dos animais que seguiam para o abate. Eu também estava lá mas fiz diferente. Coloquei-me de braços abertos na frente do caminhão. Com todos me olhando, obriguei o motorista a descer e logo em seguida libertei os animais. Os bovinos fugiram assustados quebrando todas as mesinhas com comes e bebes e seguiram para os campos onde hoje é um santuário. Ao motorista e aos “donos” dos animais dei outro emprego. Hoje trabalham produzindo e comercializando tofu. Os moradores e turistas caíram em si e todos viraram comunistas e veganos na justa hora em que eu tomei de um microfone, insuflei a voz e dei uma aula de ética e sociedade justa e pacífica. Não há mais maltrapilhos, nem famílias pobres ou cães abandonados em São Virgílio que até ganhou outro nome. Tornou-se Covegan, o primeiro município 100% comunista e vegano do país, referência para o amplo movimento de transformação que se espraia hoje por todos os estados e países. >>>


Poderia ter sido assim? Por mais que haja realmente muito de covardia em nós, não temos como negar que muito de impotência também exista. No entanto, apesar de o Hoje não poder ser logo o que queremos dele, o que podemos e devemos fazer para que o Amanhã o seja? Com que alternativas podemos contar para tornar nossas cidades autênticas “Covegans”?

Tem que haver saída!


Fonte: Vista-se

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