sábado, 9 de agosto de 2008

Natureza responde às ações dos homens

O ambientalista Arthur Soffiati apresentou, na semana passada, uma avaliação qualitativa dos estudos recém divulgados pela equipe do laboratório de engenharia cartográfica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Segundo o pesquisador, a erosão de sete metros da costa marítima da praia de Atafona, no litoral de São João da Barra, e a movimentação de cerca de 34 mil metros3 de areia no trecho entre Atafona e Grussaí, fenômenos registrados entre 2006 e 2007, estão sendo ocasionadas pela perda da força e do volume de água da foz do rio Paraíba do Sul, afetado pela série de intervenções realizadas pelo homem ao longo de sua bacia, e não apenas pelo aquecimento global ou por mudanças climáticas bruscas que acabam provocando a elevação da maré e o avanço do mar.

De acordo com Soffiati, a construção de barragens, o desmatamento da mata nativa da margem do rio e a implantação de canais que acabam desviando o curso do rio são os principais causadores da diminuição do volume das águas do rio, que não é capaz de controlar o avanço das marés sobre a costa de Atafona.

O ambientalista explicou ainda que as intervenções do homem acabam impedindo que o rio carregue em seu curso areia que renova a faixa de areia no trecho de quebra-mar.

— O aquecimento global também é responsável pela erosão em Atafona, porém não nas proporções apresentadas pelo estudo da equipe da Uerj. Essa perda de sete metros da faixa do quebra-mar é ocasionada pela perda da força das águas do rio em bloquear a elevação das marés. As intervenções do homem são as grandes responsáveis por isso — afirmou o ambientalista.

Soffiati disse que estudos apresentados pela Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que 12 grandes rios em todo o mundo não possuem mais forças para manter a foz aberta nos períodos de seca: “Se as intervenções na bacia do Paraíba continuarem no mesmo ritmo, é provável que em cinco anos essa erosão dobre. O rio Paraíba do não possui mais força para combater o mar”, afirmou o ambientalista.

Diminuição de água na foz do Paraíba

A movimentação de 34 mil metros3 de areia na costa da praia de Atafona também foi explicada por Soffiati. Segundo ele, a formação das dunas está sendo provocada por dois fenômenos distintos: o choque entre duas correntes marítimas, de sentidos opostos, que se encontram no litoral de São João da Barra, e a diminuição da água na foz.

— Na ausência das águas do rio, o choque entre as duas correntes provoca a movimentação de areia que é jogada pelo mar na costa. O vento fica responsável pela formação das dunas que se transformam em uma barreira durante a elevação das marés — disse.

Soffiati explicou que a preservação das dunas, que chegou a causar uma ação no Ministério Público Federal, movida por habitantes da área contra a Prefeitura local, que utilizava máquinas para retirar areia, é embasada por ordem legal.

Estudos da Uerj foram iniciados no ano de 2004

Os estudos dos alunos da equipe do laboratório de engenharia cartográfica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) foram iniciados em 2004, quando o professor Gilberto Pessanha começou a medir a erosão da costa da praia de Atafona através do Sistema de Posicionamento Global (GPS).

Com o mapeamento, o pesquisador pôde identificar que, de 2006 até o segundo semestre deste ano, 20 metros da costa de Atafona haviam sido tomados pelo mar durante os períodos de maré-alta e ressaca.

Ele informou ainda que no espaço de um ano — 2006-2007 — 34 mil metros3 de areia se movimentaram no local, formando dunas que chegam a atingir casas e bloquear parte da pista da avenida Atlântica.

— As nossas pesquisas foram realizadas com o apoio de outras instituições que nos deram suporte, com aparelhos de alta tecnologia, permitindo aos nossos alunos comprovarem a erosão da costa e a formação das dunas em Ata-fona — informou Gilberto.

O professor apontou ainda que a expectativa é de que os fenômenos tenham intensidades maiores durante os próximos anos.

— Esses fenômenos estão sendo provocados pelas atuais mudanças climáticas, ocasionadas pelo aquecimento global. Caso a situação continue nesse mesmo ritmo, a erosão da costa da praia de Atafona e a movimentação da areia vão ser ainda maiores nos próximos — afirmou o pesquisador da Uerj.

Fonte: Jornal Folha da Manhã / Arthur Soffiati.

http://www.portaldomeioambiente.org.br/noticias/2008/agosto/09/6.asp

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