terça-feira, 20 de maio de 2008

ઇ‍ઉ Alunos da UNESP de São José do Rio Preto promovem o freeganismo

Aos 24 anos, Ana Paula Francisco, aluna do quarto ano do curso de
Química Ambiental do Instituto de Biociências, Letras e Ciências
Exatas (Ibilce) da Unesp, campus de São José do Rio Preto, estudou a
vida inteira em escola pública e é vegetariana há oito meses.
Simpatizante de filosofias anti-capitalistas, adota práticas
freeganistas desde o ano passado e acredita que é possível basear
nosso comportamento cotidiano em alternativas que causem menos
impactos ambientais e visem à auto-suficiência. Nesta entrevista, Ana
Paula explica o que é o freeganismo e como ele vêm sendo praticado no
Ibilce.

Universia: O que é o freeganismo?

Ana Paula: O freeganismo é uma ideologia que adota estratégias
práticas para boicotar o modelo de sociedade capitalista. Uma de suas
principais características é a tentativa de evitar ao máximo o
consumo, com o objetivo de depender o mínimo possível do mercado - o
que possibilita que evitemos desperdício desnecessário e consigamos
viver de maneira sustentável. Algumas das estratégias utilizadas por
freegans para atingir tais metas é realizar atividades como feiras de
trocas desinteressadas, moradia livre de aluguel, utilização de
transporte ecológico - como, por exemplo, bicicleta - etc.

Universia: Quais são as origens do movimento freegan?

Ana Paula: O freeganismo [free ("livre", em inglês) + vegan
(vegetariano)] surgiu do veganismo, filosofia que condena a exploração
dos animais e segundo a qual seus seguidores optam por se abster de
produtos que têm origem animal e que foram testados neles. O
freeganismo caminha no mesmo sentido, mas vai além porque estabelece
uma crítica à sociedade de consumo.

Universia: Quem introduziu as idéias do movimento no Ibilce? Há quanto
tempo iniciativas relacionadas a essa filosofia vêm sendo
desenvolvidas no campus?

Ana Paula: Essa filosofia tem ganhado espaço no Instituto desde 2006,
quando uma aluna do curso de tradução, Carina Ruiz Cai, trouxe as
idéias para o campus e começou a praticá-las. No começo, era apenas
ela que ia à feira recolher alimentos desperdiçados, mas depois que
começamos a promover a feira de trocas desinteressadas e a divulgar os
ideais freegan por meio de panfletos, mais gente começou a participar.
Começamos a oferecer almoços freegans aos domingos, para os quais
convidávamos todos que quisessem ir. Atualmente, cerca de quinze
alunos do campus estão envolvidos com essas atividades e apóiam nossas
iniciativas.

Universia: Que outros projetos alternativos você já desenvolveram no campus?

Ana Paula: Já realizamos a "Feira de trocas desinteressadas", que,
além de incentivar o não-uso do dinheiro, beneficia o meio-ambiente ao
promover o reaproveitamento de produtos. A idéia dessas feiras, além
de boicotar a sociedade de consumo, é que não haja preocupação em
trocar produtos que possuam valores financeiros equivalentes, mas que
os objetos que iriam para o lixo simplesmente sejam trocados. Ano
passado, também fizemos o "Baú de dádivas", algo semelhante à feira de
trocas desinteressadas: deixamos, na frente do DAF, uma caixa onde
eram depositados objetos que não interessavam mais aos seus donos e
outras pessoas poderiam retirá-los sem precisar colocar algo no lugar.

Universia: Como é a aceitação por parte dos seus colegas, dos
feirantes e das pessoas que vêem freegans recolhendo alimentos nas
ruas?

Ana Paula: As pessoas, em geral, acham essas práticas estranhas, já
que associam tais iniciativas ao repúdio que sentem por esses
alimentos, que são considerados como não aproveitáveis para o consumo.
Outras até pensam que estamos tirando de pessoas mais necessitadas,
mas não percebem que o desperdício é tão grande que, mesmo que a gente
recolha os alimentos desperdiçados nas feiras, muita coisa boa sobra e
vai parar no lixo. Às vezes é um pouco difícil que os outros entendam
isso. Uma vez, uma funcionária do Instituto viu uma amiga minha que ia
a uma feira próxima ao Ibilce todos os domingos recolhendo alimentos
do chão; por preocupação, ela contou isso para a assistente social,
que chamou a garota para conversar e ofereceu assistência estudantil
para ela.

Universia: Como você acha possível manter o ideal do freeganismo em
uma sociedade como a nossa? Não há momentos em que você sente um
impulso consumista e questiona essa filosofia?

Ana Paula: É possível acreditar no freeganismo quando não aceitamos
mais o modelo de sociedade em que vivemos e nos aliamos a grupos ou
pessoas que também desenvolvem atividades anti-capitalistas. Eu,
sinceramente, não tenho impulsos consumistas; antes de comprar
qualquer coisa, apenas reflito bastante sobre o que é realmente
necessário.

Fonte: Unesp
http://www.universia.com.br/noticia/materia_dentrodocampus.jsp?not=42444

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