quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Ibama recomenda abate de capivaras

Remoção de roedores do Lago do Café para outro local é desaconselhada pelo órgão para evitar o risco de novas infestações
Delma Medeiros
da Agência Anhanguera

A questão não está fechada, mas tudo indica que o destino das cerca de 50 capivaras que habitam o Lago do Café, em Campinas, será mesmo o abate. A proposta foi feita pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para resolver o problema da transmissão de febre maculosa. O Lago do Café é considerado área de risco para a doença, com um caso de contágio confirmado. Este ano, há suspeita de outra morte por febre maculosa contraída no parque, de um funcionário, mas a confirmação ainda depende dos resultados dos exames sorológicos.

A Secretaria Municipal de Saúde estudava o manejo dos animais para outro local. “Pensamos, inicialmente, em retirar as capivaras, mas a proposta do Ibama é de abate, não de remoção”, afirmou o médico sanitarista da Coordenadoria de Vigilância em Saúde de Campinas (Covisa), André Ribas de Freitas.

“O problema das capivaras é uma questão de saúde pública. Não podemos transportar as capivaras vivas para outro lugar porque não há como garantir que elas não estarão levando e espalhando carrapatos infectados para outros locais. Por isso, a alternativa é fazer o abate e depois decidir o destino das carcaças”, explicou o chefe da Divisão de Fauna do Ibama-SP, Rodrigo Cassola.

Segundo ele, antes de tomar essa posição, o Ibama discutiu o assunto longamente com a Superintendência de Controle de Endemias (Sucen) para a elaboração em conjunto de um Termo de Referência, que estabelece a medida drástica como forma de conter a disseminação de carrapatos possivelmente infectados com a bactéria Rickettsia rickettsii, transmissora da febre maculosa.

Cassola ressalta que o Ibama recebe inúmeros pedidos de remoção de capivaras, muitos deles, afirma, sem necessidade. Cada caso é analisado separadamente, mas para animais de áreas de risco (com histórico de transmissão) a indicação é o abate. Outros aspectos considerados, conforme o chefe da Divisão de Fauna, são a necessidade de fechar a área depois da retirada das capivara, para impedir a entrada de outros animais, além de dispor de informações precisas sobre a situação.

Mapeamento

Nesse sentido, para embasar a definição sobre o destino das capivaras do Lago do Café, a Secretaria de Saúde está elaborando um relatório completo sobre a situação dos animais no local. “O relatório tem que apresentar uma avaliação sobre a estrutura física da área, mapear a quantidade exata de capivaras no local, observar os hábitos e comportamento dos roedores, entre outros, tudo de acordo com metodologia do próprio Ibama”, explicou Freitas, destacando que trata-se de um processo complexo e demorado. A expectativa é concluir o relatório até o final deste ano.

Enquanto a questão não se define, a Covisa e Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) informam os freqüentadores e trabalhadores sobre como evitar o contato com carrapatos. “O essencial é evitar áreas de grama e vegetação”, orienta Freitas. Já os trabalhadores da capina ou limpeza, que ficam expostos a esse contato, são orientados a utilizar corretamente os equipamentos de proteção individual, usar roupas claras, manter a calça por dentro da meia, investigar o próprio corpo depois, usar carrapaticida em caso de infestação e procurar o serviço de saúde, citando a exposição, no caso de alguma manifestação, como febre sem causa aparente.

Saúde investiga mais uma morte por maculosa

A Secretaria de Saúde de Campinas investiga mais uma morte por suspeita de febre maculosa ou leptospirose. Trata-se de um pedreiro de 24 anos, morador de Sousas, que morreu no dia 11 de agosto no Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) no mesmo dia da internação. Segundo o médico sanitarista André Ribas de Freitas, o pedreiro foi exposto à leptospirose pelas condições de moradia (recolhia recicláveis) e presença de ratos, e à febre maculosa por freqüentar área de vegetação possivelmente infestada por carrapatos. “Do ponto de vista epidemiológico, investigamos as duas possibilidades. Mas o aspecto clínico sugere tratar-se de febre maculosa”, disse Freitas.

Independentemente do resultado, a secretaria deflagrou medidas de controle para as duas doenças, com recomendação de limpeza do entorno da moradia para eliminar roedores, e investigação na área de vegetação para identificar presença de carrapatos. Segundo Freitas, a febre maculosa tem maior incidência em homens adultos jovens. “Não por serem mais vulneráveis, mas pela exposição maior.”

Este ano ocorreram três mortes por suspeita de febre maculosa, todas aguardando confirmação por exames: o trabalhador do Lago do Café, que morava no Jardim Carvalho de Moura, região Sul, que morreu no dia 18 de junho; um homem de 28 anos do Jardim Santa Cândida, região Norte, que morreu em 12 de junho, e o morador de Sousas. No total, foram 113 notificações de febre maculosa este ano, das quais 93 de moradores de Campinas. Apenas um caso foi confirmado, de um paciente que evoluiu para cura. Em 2007, Campinas confirmou sete casos da doença, com dois óbitos, de um total de 390 notificações. Em 2006, foram 12 casos confirmados com quatro mortes. (DM/AAN)

http://www.renctas.org.br/pt/informese/noticias_nacional_detail.asp?id=2415

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