e pode ser seguramente afirmado que quem é cruel com
os animais não pode ser um bom homem."
Arthur Schopenhauer
Sempre que relaciono Filosofia e Libertação Animal, recordo-me de duas grandes frases que ficaram gravadas em minha mente: "Aprender Filosofia ou aprender a filosofar"1, e a segunda de peso ainda maior, que foi dita pela filósofa Sônia T. Felipe durante uma palestra sobre o Estatuto Moral dos Animais, em meio a mestres, doutores e alunos de filosofia: "E o filósofo não pensa"2. Por aí vemos que uma relação muito forte prende as duas questões: Como pensar, senão através do aprendizado, e como aprender se não conseguimos pensar? É claro que para que o futuro filósofo pense acerca da Libertação Animal, é necessário que ele aprenda algo sobre esse assunto. Contudo, obras de filósofos que falam sobre a Libertação Animal permanecem distantes da grande maioria dos alunos de Filosofia, discussões acerca dessas questões, segundo alguns professores, serão tratadas mais adiante: "...quando aprendermos sobre o antropocentrismo e sobre o antropomorfismo"; porém, acredito que seja difícil dizer que alguns não saibam, mas aprendemos a ser antropocêntricos logo no primeiro dia de aula. O Ser3 filosófico é Humano e o não Ser, é animal, ou seja, não existe, não possui valor moral nem pode ser encarado com respeito, afinal, inexiste. "A razão é o que separa os homens dos animais", nos disse Aristóteles. "O homem é a medida de todas as coisas", nos disse Protágoras, "das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são", ou seja, somos a lei, somos as tradições, violem elas ou não as vidas alheias dos que não nos são iguais, criamos e revertemos todas as regras conforme desejamos.
E a Libertação Animal permanece longe dos bancos catedráticos como se fosse um estigma a sociedade, como se não fosse importante, não fazendo parte de nada que se refira a Ética, como se fosse ético matar e como se fosse ético proporcionar dor. Por isso um dos conceitos mais importantes na formação da Filosofia para a Libertação Animal é a Pedagogia - caminho a ser trilhado -, pois esse processo educativo pode levar tanto a opressão como a libertação, podemos não acreditar, mas existem filósofos que não possuem qualquer respeito para com a Natureza e para com a vida dos animais, sem contar que a grande maioria é antropocêntrica, não se dedicando ao estudo da moral e da ética em relação aos animais. E a Filosofia busca a todo o momento, pela eticidade dos homens, esquecendo que fazemos parte de um círculo muito maior do que o dos "divinizados" seres humanos. Libertar o homem de sua "maldade", livrar o homem de sua mão opressora através da visão de Mundo, essa é a tarefa principal da Filosofia na busca por uma ética da Libertação Animal, e por Libertação Animal devemos compreender a "Nossa Libertação", pois que também somos animais e necessitamos dessa liberdade para enxergarmos a verdade; conduzir bem esse processo de modo a que possamos nos encaminhar a Libertação e não mais a opressão, é a real tarefa da Filosofia. Através do método pedagógico, de formação, através dessa troca de conhecimento, a Filosofia poderá apresentar ao aluno todas as facetas de uma ética desprovida do antropocentrismo e de qualquer vaidade filosófica, pois os professores, seus alunos, enfim, cada pessoa já é em si mesma, formadora de opinião. Somos todos seres influenciadores e seres influenciados, pois ao mesmo tempo que interferimos no Mundo, pedagogicamente, sofremos interferências dele, também pedagogicamente. Por isso a importância dessa mudança na visão educacional dentro da Filosofia, pois a formação da sociedade tem inicio no nascimento de cada indivíduo, onde somos forjados para marginalizar os animais, a explorar seres que julgamos inferiores, principalmente quando não fazem parte da mesma espécie a qual pertencemos; nossos pais,esses os primeiros pedagogos, foram ensinados a não verem nada além da existência humana, e passaram essas lições adiante.
A difícil missão da Filosofia é agora:
1° - Libertar-se do preconceito e da vaidade
2° - Passar adiante a verdade, tal como ela é, sem espelhar-se em sua "opinião pessoal", deixando que o aluno considere o que lhe é mostrado, que problematize e compare o que aprendeu desde a infância, com aquela nova revelação que lhe surge
É certo matar animais? Por quê? Baseado em quê? Pode-se viver perfeitamente saudável sem a ingestão de vísceras de animais? Se sim, por que nos ensinaram o contrário? Quem lucra com a matança? Qual a ligação entre o abate de animais e a fome mundial? É possível mesmo acreditar na existência de uma ética que continue privilegiando uns e oprimindo outros?
Essa á função da Filosofia, fazer o futuro filósofo se questionar, buscar respostas, criar novos sistemas filosóficos não mais antropocêntricos. Privilegiar a Vida em nome da Ética e a Ética em nome da Vida.
"A vontade de poder-dominação define o perfil do ser humano das sociedades modernas". (Nietzsche).
A Filosofia ainda está presa a muitas tradições, dominada pelo antropocentrismo filosófico dos grandes homens que a fizeram nascer, existe uma ética do corpo, porém de corpos humanos, enquanto corpos de animais se avolumam num holocausto bárbaro sem fim. Mas, "o filósofo não pensa", e precisa recomeçar a pensar, pois é assim que a verdadeira Filosofia deve ser trabalhada, estudada e praticada.
"Aprender não é o bastante, é preciso praticar". (Bruce Lee)
É dever da Filosofia, através da pedagogia, "bem" dirigir os indivíduos rumo a uma ética que liberte animais humanos e não humanos, eis aí o caminho para a verdadeira Libertação Animal.
Referências Bibliográficas
FELIPE, Sônia T. - O estatuto dos animais na comunidade moral humana - Projeto Kairós- Umesp.2008
RAMOS, Cesar Augusto - Aprender a filosofar ou aprender a Filosofia: Kant ou Hegel?
BARNES, Jonathan - Filósofos Pré-socráticos.
NOTAS
1 Artigo de Cesar Augusto ramos, onde ele traça um paralelo entre os pensamento de Kant e Hegel, diante do ensino da disciplina de Filosofia.
2 Colóquio Kairós-Umesp
3 Referência casual a Parmênides e ao Ser.Segundo ele o Ser é(existe), o não Ser, não é (não existe) e não se pode falar sobre algo que inexiste.
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