terça-feira, 24 de junho de 2008

Multinacionais começam a abandonar patrocínio de touradas

Desde o final de abril, no seguimento de iniciativas de protesto e de pré-aviso de boicote promovidas pela ANIMAL e com participação de centenas de portugueses e estrangeiros, bem como por várias organizações estrangeiras parceiras da ANIMAL, sete empresas nacionais e multinacionais que mantinham algum tipo de envolvimento comercial ou apoio, sob a forma de patrocínio ou outro, com touradas em Portugal afastaram-se dos eventos tauromáquicos com os quais estavam envolvidas. Algumas tomaram uma posição forte de condenação da crueldade contra animais quando anunciaram o fim da sua relação com o evento tauromáquico com o qual estavam relacionadas.
1 - A 23 de abril, menos de 24 horas depois do início dos protestos, a cadeia internacional Ben & Jerry\'s - que estava a surgir como patrocinadora da Garraiada Académica de Lisboa - comunicou, através da sua sede no Reino Unido, o fim desse patrocínio. Segundo a Ben & Jerry\'s Reino Unido, a empresa em Portugal estava a patrocinar as festas acadêmicas de Lisboa e não tinha conhecimento de que estas incorporavam uma \'garraiada\' - tourada com garraios, touros de um a três anos de idade. A Ben & Jerry\'s afirmou ter sido indevidamente associada à garraiada e ordenou aos promotores que retirassem qualquer referência à marca dos cartazes e de todos os elementos, uma vez que não a apoiava nem queria ter qualquer envolvimento com esse evento de violência contra animais.

2 - No mesmo dia, os promotores da Garraiada Acadêmica de Lisboa apresentaram a Caixa Geral de Depósitos como empresa patrocinadora da garraiada. Mais uma vez, em resposta aos protestos gerados pela ANIMAL, também esta empresa - ainda no dia 23 de abril - esclareceu sua posição, afastando-se da garraiada. Segundo um relações públicas da Caixa de Geral de Depósitos que contactou a ANIMAL, a CGD patrocinou as festas de Lisboa, Porto e Coimbra, apoiando as associações acadêmicas que as promoveram, mas declarou especificamente não querer apoiar as garraiadas ou ver a sua marca e imagem surgir de algum modo associada a estas. A Garraiada Acadêmica de Lisboa aconteceu, infelizmente, em 30 de abril, mas sem patrocinadores.


3 - No dia 8 de maio, a Unicer / Super Bock respondeu aos pedidos que lhe foram endereçados para que deixasse de patrocinar a \'Corrida da Flor de Homenagem à Mulher Alentejana\', uma tourada que estava anunciada para acontecer em 10 de maio, em Moura. No comunicado emitido pela empresa, a Unicer afirmou que "a presença de Super Bock Mini nos materiais promocionais da Corrida da Flor de Homenagem à Mulher Alentejana resulta de um infeliz equívoco operacional", e declarou que iria "proceder ao recolhimento dos materiais promocionais que associam a marca a este evento", explicando ainda que "a Unicer e as suas marcas sempre respeitaram e respeitarão os direitos e garantias dos animais e nunca, em circunstância alguma, foi cometida qualquer ilegalidade, provocação ou ameaça sobre os mesmos", estabelecendo, finalmente, que "a associação ou apoio a este tipo de eventos não faz parte da estratégia de comunicação de Super Bock ou de qualquer marca da Unicer", assegurando também "que não existem planos para que esta posição seja alterada no futuro". Ao tomar esta feliz posição, a Unicer distanciou-se positivamente da crueldade contra animais, deixando a tourada, que supostamente iria patrocinar, sem patrocinadores.

4 - Depois de ter sido alvo de protestos nacionais e internacionais por surgir como apoiadora do vergonhoso programa de propaganda pró-tauromáquica semanal \'Arte & Emoção\', emitido pelo canal 2 da RTP, a Kodak não só se afastou completamente de qualquer envolvimento com as touradas, como foi mais longe. Em 26 de maio, o presidente da Kodak Reino Unido, Julian Baust, escreveu que "a Kodak não aceita de modo algum a crueldade contra animais", tendo adiantado que, "logo após ter sido informada desta situação, a Kodak pediu que a associação da marca Kodak ao dito programa Arte & Emoção fosse encerrada".

5 - Em 28 de maio, dois dias depois da Kodak ter se afastado comercial e promocionalmente das touradas e ter condenado a crueldade contra animais, a cadeia internacional de hotéis Marriott International respondia aos protestos pelo fato de sua unidade das Caldas da Rainha, o \'Marriott Praya d\'El Rey Golf & Beach Resort\' estar oferecendo um pacote turístico tauromáquico a seus clientes, impulsionando o turismo de touradas na cidade, onde aconteciam as \'Primeiras Jornadas Taurinas das Caldas da Rainha\'. Na resposta do grupo de hotéis aos protestos, a vice-presidente de Vendas & Marketing para a Europa Continental do Marriott International informou que o pacote que estava a motivar os protestos havia sido cancelado, depois de "ter sido revisto" pela administração.

6 - No dia 12 de maio, o jornal 24 Horas deixou de ser anunciado como apoiador da \'1ª Grande Corrida Vidas / Correio da Manhã\', uma tourada que iria acontecer no Campo Pequeno no dia 15 de maio e da qual, originalmente, o \'24 Horas\' seria uma das entidades patrocinadoras. Esta dissociação surgiu, mais uma vez, no seguimento de protestos gerados pela ANIMAL e dirigidos ao grupo Controlinveste, que detém o \'24 Horas\'. O \'24 Horas\' já tinha apoiado outras touradas que tinham decorrido naquela praça antes desta de 15 de maio e, infelizmente, voltou a apoiar touradas depois de se ter dissociado daquela tourada, estando atualmente a ser já anunciada a \'3ª Grande Corrida 24 Horas\', o que fez com que o \'24 Horas\' e o grupo Controlinveste voltassem a estar no centro dos protestos e das ameaças de boicote. A verdade, porém, é que o jornal hesitou em seu aparente compromisso com o apoio às touradas e deixou de patrocinar aquela tourada em particular, quando antes esse apoio estava anunciado.

7 - No dia 17 de junho, foi a vez da Melka. Esta marca sueca de roupa estava a surgir como apoiadora do programa tauromáquico \'Arte & Emoção\', que já tinha perdido o apoio da Kodak. Em face dos protestos que se fizeram sentir, o administrador regional ibérico da Melka comunicou ontem à ANIMAL que "a Melka não teve nem tem intenção de associar-se a nenhum evento de natureza cruel e muito menos contra os animais", tendo acrescentado que "as pessoas que estão à frente da marca são humanas e sensíveis", encontrando-se "do outro lado", onde, segundo o mesmo responsável, "também estão pessoas com as mesmas preocupações de defesa dos animais, o que é o meu caso", afirmou. Nesta comunicação, o porta-voz acrescentou que a empresa aproveitava "esta oportunidade para apresentar desculpas sobre o acontecido e termos, sem intenção, ferido qualquer susceptibilidade", tendo especificado que, à data desta comunicação, tinham sido já "dadas instruções específicas ao apresentador do programa para ser retirada qualquer identificação da marca no programa em causa". Mais uma vez, o programa \'Arte & Emoção\' perdeu um importante patrocinador.



Neste momento, outras empresas estão ainda a ser alvo de protestos e pedidos para que terminem as suas associações presentes com a tauromaquia. Entre estas, contam-se a cerveja Sagres, do grupo Central de Cervejas, o banco Crédito Agrícola, a marca de vestuário Guess?, a rádio Cidade FM, a Worten e a Ticketline.

Segundo Rita Silva, vice-presidente da ANIMAL, "a mensagem que queremos passar a estas e a todas as outras empresas é que apoiar a tortura de animais que faz parte do que é a tourada, além de eticamente inaceitável, é também uma opção ruinosa, em termos publicitários, promocionais e comerciais. Por todo o mundo e certamente em Portugal, os consumidores estão cada vez mais conscientes, mais informados, mais preocupados e mais activos. Dispõem-se a boicotar um produto, marca ou empresa quando há uma associação destes a violações dos direitos humanos, dos direitos dos animais e/ou a comportamentos ambientalmente incorrectos e irresponsáveis - mas também se dispõem e têm um especial interesse em consumir os produtos e serviços de marcas e empresas ética, ecológica e socialmente responsáveis, premiando as suas boas condutas. Isto significa que as empresas que se afastaram das touradas ou que não estão envolvidas com estas são agora empresas preferidas pelos consumidores que se preocupam com os direitos dos animais, enquanto as empresas que não se afastarem das touradas e as que se vierem a envolver com estas e mantiverem este envolvimento serão boicotadas em detrimento daquelas cuja conduta e posicionamento éticos a este respeito forem positivos e respeitadores dos direitos dos animais".

"Sem todos estes patrocínios perdidos e sem aqueles que já não surgirão porque muitas outras empresas perceberão, através destes exemplos, que é ética e comercialmente mais compensador ficar longe da tauromaquia, a existência de touradas em Portugal está felizmente ainda mais fortemente ameaçada. O seu fim já não tardará a chegar", afirmou a dirigente da ANIMAL.
* www.animal.org.pt

http://gaepoa.org/site/?m=Noticia&id=121


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